SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O complexo diagrama da Polícia Federal sobre um bilionário esquema de lavagem de capitais de integrantes do PCC por meio de postos de combustível tem cerca de 15 níveis, 153 empresas citadas, 52 fotos de suspeitos e 5 núcleos criminosos distintos. Duas das fotos 3×4 colocadas nesse quadro indicam, porém, o vespeiro prestes a ser tocado pela polícia. Os policiais federais levaram ao centro das investigações familiares dos principais chefões da facção, entre eles Cynthia Giglioti Herbas Camacho, mulher de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado pela polícia e Ministério Público como o número 1 do PCC. Também está no diagrama obtido pela reportagem Francisca Alves da Silva, mulher de Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha, irmão de Marcola e outro membro da cúpula da facção criminosa nascida nos presídios paulistas nos anos 1990. São citados ainda Augustinho Aparecido de Oliveira e Maria de Fátima de Oliveira, tios de Cynthia. A importância das fotos de familiares de Marcola nesse documento, em especial das mulheres, está no fato de indicarem que as chamadas “primeiras-damas” estão na mira da PF e, em meio a uma série de operações da PF para sufocar financeiramente o PCC, devem ser alvo de ações. De acordo com o delegado Elvis Secco, coordenador-geral de repressão às drogas, armas e facções criminosas da PF, a polícia trabalha para tentar tirar o poder das organizações criminosas da forma mais eficaz. “Dinheiro é poder. Tirando o dinheiro, você tira o poder”, disse ele em São Paulo no mês passado após operação contra o PCC. A diretriz da PF busca a “descapitalização patrimonial e a prisão de lideranças”. “Somente seguindo essa tocada, seguindo esse caminho, nós vamos conseguir enfraquecer essa organização criminosa. Enquanto nós comemoramos apreensão pura e simples de drogas, essa facção se enriquece, se robustece e se infiltra na estrutura do país”, disse ele. Segundo policiais ouvidos pela reportagem, as “primeiras-damas” têm patrimônio milionário, como imóveis e carros de luxo, mas não teriam como justificar os bens. No próprio diagrama da PF são citados dois imóveis atrubuídos a elas, uma casa em condomínio fechado na Granja Viana, em Carapicuíba, e um apartamento no bairro Anália Franco, na zona leste da capital. As linhas do digrama ligam os imóveis às pessoas investigadas, indicando vendedores e compradores, o que revela o rastreamento feito pela PF das movimentações financeiras da cúpula da facção. A investigação mostra que um dos postos de combustível supostamente usados para lavagem de dinheiro da facção pertenceu ao núcleo familiar de Marcola. Outro documento ao qual a reportagem teve acesso reforça a investigação sobre esses bens. “Encontra-se a presente investigação, a qual até o presente momento obteve êxito em identificar manobras que vêm evoluindo através do tempo para dissimulação do dinheiro ilícito, na qual há o envolvimento de sintonias finais da organização, como seu líder máximo, o Marcola”, diz trecho de relatório assinado pelo delegado Rodrigo de Campos Costa. O relatório trata de uma investigação que culminou na operação Rei do Crime, deflagrada no início no mês e que teve como alvo 13 pessoas físicas e 73 empresas. Há outras ressalvas importantes no documento. Uma delas diz que “neste momento”, as ações se dedicariam “aos núcleos de ‘Alemão’ e dos ‘CEPEDAS'”. Há, porém, os outros núcleos. O núcleo das primeiras-damas ainda não foi alvo de operações. “As pesquisas patrimoniais realizadas por nossa equipe de análise demonstraram que há vínculos bastante substanciosos, especialmente patrimoniais, entre ‘Alemão’ e ‘Marcola'”, diz também o relatório do delegado. Alemão é o apelido de José Carlos Gonçalves, preso na operação Rei do Crime. Segundo policiais federais ouvidos pela reportagem, entre eles alguns que participaram dos trabalhos da Rei do Crime, é inevitável que familiares sejam atingidos, porque a apuração avança por várias frentes, como financiadores, familiares e beneficiários. Segundo a reportagem apurou, entre as equipes que receberam informações sobre esses familiares da cúpula do PCC está a força-tarefa mineira, formada por policiais federais e civis de Minas, e responsável pelas operações Caixa Forte 1 e 2. Na Caixa Forte 2, as investigações chegaram a familiares de presos que estavam recebendo recursos do PCC por meio de supostas transferências com dinheiro do crime. Ao menos 310 pessoas foram presas nessa fase, entre elas uma mulher de 82 anos. A reportagem também apurou que a Polícia Civil de São Paulo tem investigação em andamento sobre familiares da cúpula do PCC. Não se sabe, porém, quais parentes estão sendo analisados pela polícia paulista. A Polícia Civil de São Paulo é comandada por um dos principais especialistas do PCC no país, o delegado Ruy Ferraz Fontes, e tem o apoio nessas ações do governador João Doria (PSDB), que utiliza o combate ao PCC como marca de governo na área da segurança. Anos atrás, segundo policiais ouvidos pela reportagem, algumas equipes da Polícia Civil de São Paulo já haviam tentado realizar ações contra as chamadas primeiras-damas. O magistrado que recebeu o pedido não indeferiu nem acatou o pedido, que ficou sem decisão, segundo esses policiais. Na época, os chefes da facção estavam no sistema prisional paulista, tinham acesso a celulares e recebiam visita de advogados constantemente. Desde o início do ano passado, toda a cúpula do grupo está no sistema federal e com contato restrito com o mundo externo. A reportagem não conseguiu contato com advogados da família Marcola.