SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Borat, o jornalista cazaque fictício encarnado por Sacha Baron Cohen, está de volta e põe na mira os negacionistas do Holocausto e os seguidores do presidente Donald Trump, bem como seu advogado, Rudy Giuliani. O filme “Borat Subsequent Moviefilm” (ainda sem título em português), que estreia na sexta-feira (23) na plataforma Amazon Prime, segue o primeiro longa do comediante britânico de 2006, um sucesso de bilheteria, que arrecadou US$ 260 milhões (R$ 1,458 bilhão) e lhe rendeu uma indicação ao Oscar e popularizou uma enxurrada de frases do personagem. Rodado em sigilo durante o verão no hemisfério norte, quando os Estados Unidos começaram a relaxar o confinamento pelo novo coronavírus, no longa a câmera segue Baron Cohen enquanto ele interage com as pessoas comuns e políticos através de seu alter ego desajeitado e altamente ofensivo. Desta vez, a trama gira em torno de suas tentativas de casar a filha de 15 anos com o vice-presidente Mike Pence ou, em caso de fracasso, com Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York mais conhecido atualmente como advogado pessoal do presidente Donald Trump. Embora os detalhes permaneçam em segredo, sabe-se que uma das cenas envolve Giuliani, que chamou a polícia em julho, depois de ter concedido uma sórdida “entrevista” em um quarto de hotel para uma jovem atraente e paqueradora. No filme, o encontro parece deixar o ex-prefeito de Nova York, de 76 anos, em uma situação muito embaraçosa, literalmente com as mãos presas dentro das calças. Giuliani, que não atendeu aos pedidos da AFP, disse ao New York Post ter pensado que o encontro fosse uma entrevista séria sobre os esforços do governo Trump para combater a pandemia. “Só um pouco depois me dei conta de que era Baron Cohen. Pensei em todas as pessoas que ele enganou anteriormente e me senti bem comigo mesmo porque não me pegou”, disse Giuliani ao jornal, acrescentando ser “fã de alguns de seus filmes”. A produção foi alvo de críticas mistas duas semanas antes da eleição norte-americana. “Sequências não chegam mais triunfantes, ou em hora melhor, do que esta”, disse o Daily Beast em sua resenha nesta quarta-feira (21). A revista Variety disse que o filme apresenta “uma narrativa de longa-metragem condizente e coerente pontuada de esquetes revoltantes e imprevisíveis”. “SAUDAMOS TRUMP” Giuliani, aliado próximo de Trump, é a vítima mais destacada do círculo do presidente no filme. Baron Cohen escreveu em um artigo de opinião recente na revista Time que temeu por sua vida depois de participar de um comício sobre os direitos ao porte de armas no Washington. No longa, Borat, caído em desgraça pelos eventos do “prequel” (história que se passa antes do filme original), tenta redimir a si e ao seu país, levando um presente ao vice-presidente Mike Pence, que aparece rapidamente. A campanha de marketing incluiu uma conta fictícia do governo do Cazaquistão no Twitter, com mensagens como “Parabenizamos Trump por esmagar a covid que os democratas lhe deram”, e cumprimentos a Mike Pence por seu desempenho no debate. Pence é descrito como o vice-presidente “Pussygrabber”, em alusão às gravações de Trump durante a campanha passada, na qual o presidente se vangloriou de agarrar as mulheres “pela boceta”. Baron Cohen apareceu na pele do personagem na noite de segunda-feira no programa de TV de Jimmy Kimmel, a quem aplicou um “questionário da peste do cazaque normal”, antes de submetê-lo a um exame físico pouco ortodoxo. AÇÕES JUDICIAIS Muitas das vítimas de Baron Cohen no filme foram novamente membros involuntários do público. Várias pessoas que apareceram no filme original, inclusive uma dupla de estudantes universitários bêbados, processaram os cineastas por enganá-los para que aparecessem na fita. O novo filme também já foi alvo de um recurso na justiça pelo testemunho de um sobrevivente do Holocausto, que morreu no verão boreal pouco depois de falar com Borat e a produção do documentário falso. Judith Dim Evans aparece no filme para ensinar Borat sobre o Holocausto e é apresentada de forma positiva. Mas sua filha recorreu à justiça porque sua mãe não queria ser incluída em uma comédia que abordasse o Holocausto. “Ao tomar conhecimento, depois de dar a entrevista, de que o filme era na realidade uma comédia destinada a debochar do Holocausto e da cultura judaica, a senhora Evans ficou horrorizada e se incomodou”, diz o recurso, ao qual a AFP teve acesso. Baron Cohen, que é judeu, é um crítico declarado do antissemitismo e das teorias da conspiração e, sobretudo, de sua propagação nas redes sociais.