SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Padre Marcelo Rossi, 53, diz ter pavor de ser juiz da atitude dos outros. “Vemos tantas pessoas em tantas áreas que julgam e condenam como se fossem juízes. Peço a Jesus que eu não seja assim, que eu seja um médico, quero salvar vidas”, afirma. É com esse objetivo em mente, que ele conta ter “aberto o coração” em seu novo livro, “Batismo de Fogo – Conheça a Força da Superação Divina”. Em 144 páginas divididas em 12 capítulos, o sacerdote faz uma retrospectiva de sua vida, e conta momentos de fraquezas como quando, ainda na juventude, chegou a usar esteroides anabolizantes para ganhar massa muscular -e como uma vitória de Ayrton Senna (1960-1994), que ele conheceu em uma academia na zona norte de São Paulo, o fez reencontrar as suas crenças religiosas. Ou quando enfrentou a depressão, época em que já era famoso em todo o país, e muitos o questionaram como um ‘homem de fé’ poderia ter a doença? “E justamente a essas pessoas, eu dizia: ‘Foi a fé que me salvou’.” Para o religioso, representante do movimento Renovação Carismática da Igreja Católica, ao fazer relatos pessoais de seus dramas, ele consegue se aproximar das pessoas, “porque muitas vezes elas te colocam num pedestal”. “Estou em busca da santidade, mas não sou santo”, completa. A ideia do livro, conta o padre, surgiu após ele ter sido empurrado por uma mulher durante uma missa em Cachoeira Paulista (a 212 km de São Paulo), em 14 de julho de 2019. Para o pároco, foi um milagre o fato de não ter acontecido nada de grave com ele, apesar da queda de quase dois metros de altura. A partir daquele momento, ele afirma ter reavivado a sua fé. “Pensava que tinha feito muita coisa, mas, na verdade, eu não fiz nada, quem fez foi Deus. E quando eu tomei, e estou tomando essa consciência, vejo que o meu sacerdócio está apenas começando”, diz. O primeiro capítulo, chamado “O Mal Tentou Me Derrubar”, é dedicado ao acidente. Padre Marcelo Rossi afirma que o livro estava praticamente pronto antes de a pandemia do novo coronavírus. Ele revela ter apenas incluído o assunto em alguns trechos, especialmente no último, “O Fim É Sempre um Começo”. O religioso diz acreditar que a obra possa ajudar os fiéis a lidar com os efeitos na saúde mental que já começam a aparecer como consequência das medidas de combate à Covid-19. “É uma ação preventiva contra essa segunda epidemia que já está surgindo: a da depressão.” Para ele, ter fortalecido a sua crença após o que chama de “bendito empurrão” o ajudou a atravessar o isolamento social e os cinco meses que teve de fechar as portas para o público no Santuário Nossa Mãe de Deus, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo. “Eu confesso que o primeiro impacto, especialmente no dia 19 de março, dia de São José, foi indescritível. Quando entrei lá, e vi o Santuário vazio, uau…foi um impacto”, afirma. O local foi reaberto no dia 15 de agosto, mas com a capacidade reduzida, seguindo os protocolos de saúde. “Até agora não pode dizer que acabou, porque até a vacina [chegar] não podemos brincar. É o que eu sempre falo para as pessoas: ‘Com prudência, sabedoria e alegria vamos vencer essa pandemia'”, conclui. VEJA ALGUNS TRECHOS DE ‘BATISMO DE FOGO’ Sobre o empurrão que sofreu em julho de 2019: “No chão, após uma queda de mais de dois metros de altura, não tive pressentimento de morte, não entrei em estado alterado de consciência, nada. Tudo o que me consumia era a dor. E um sentimento de ternura, como a ternura de mãe. “Aos poucos fui montando as peças do quebra-cabeça do que havia acontecido, mas isso era menos importante do que a pergunta que começou a se desenhar: o que o Senhor queria com aquilo? Ali e nos dias que se seguiram comecei a enxergar todas as peças que levaram à quela situação.” Sobre como a vitória de Ayrton Senna em 1988 o fez reencontrar a fé: “Queria ficar cada vez mais forte, cada vez mais musculoso. As prioridades da minha vida passaram a ser os exercícios da academia. Quando comecei a treinar em uma academia grande no bairro de Santana, zona norte da capital paulistana, encontrei um dia por lá o Ayrton Senna […] […] No último fim de semana de outubro de 1988, os dois componentes se encontraram: a corrida de Ayrton Senna no Japão, que poderia selar seu primeiro título na Fórmula 1, e uma aplicação de anabolizantes. […] Quando, na última volta, ele levantou as mãos, como em agradecimento a Deus, fiquei especialmente emocionado. Naquela hora, Deus voltou a falar comigo.”