SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O diretor do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF, na sigla em inglês) Kirill Dmitriev espera que o registro da vacina russa Sputnik V no Brasil, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya e em fase 3 de ensaios clínicos, seja apresentado em dezembro. A vacina russa deve ser produzida no país em parceria com a farmacêutica União Química. O governo da Bahia já realizou a compra de 50 milhões de doses, a serem entregues diretamente do instituto russo. O governo do Paraná também firmou acordo para produção da vacina, que inclui transferência de tecnologia. Ainda não há informações se o governo federal irá firmar um acordo com a Rússia para disponibilizar a vacina no SUS. A informação foi anunciada durante uma entrevista à imprensa nesta segunda-feira (19). Além do Brasil, a Rússia pretende firmar acordos com outros países na América Latina para produzir doses da Sputnik V, dentre eles a Argentina, o Uruguai, Peru e México. Dmitriev divulgou ainda informações inéditas sobre o total de doses a serem produzidas até o final do ano. O RDIF espera produzir 1,2 bilhão de doses, sendo 230 milhões somente para a América Latina. “Nós iremos apresentar esses resultados de fase 3 aos órgãos de controle em cada país onde firmamos acordos para disponibilizar a Sputnik V, e a velocidade com a qual esses acordos serão aprovados depende de cada órgão, mas esperamos que, devido à pandemia, esse processo seja acelerado para estarmos, até dezembro, prontos para iniciar a distribuição”, afirmou Dmitriev. Se o cronograma correr como o esperado, a partir de janeiro devem ser enviadas as primeiras remessas com as doses das vacinas para os países na América Latina. No início de setembro, os primeiros resultados das fases 1 e 2 de ensaios clínicos foram publicados na revista científica The Lancet, mostrando que a vacina é capaz de induzir resposta imune e ser segura. Denis Logunov, diretor adjunto do Instituto Gamaleya e envolvido na produção e ensaios clínicos da vacina, afirmou que os principais efeitos adversos reportados até o momento na terceira fase de estudos foram hipotermia (10% dos voluntários), dor no local da injeção e dor muscular. Ainda, a eficiência da vacina -induzir à produção de anticorpos- foi reportada em 100%. Os ensaios clínicos foram conduzidos em voluntários saudáveis com idade entre 18 e 60 anos. Dmitriev afirmou ter uma experiência pessoal positiva com a vacina. O CEO disse ter tomado o imunizante, assim como seus pais, que têm mais de 60 anos de idade. “Pessoalmente, minha experiência com a vacina foi boa. Não tive efeitos sérios, tive um pouco de fadiga, mas nada que fosse muito forte. Meus pais não tiveram reações sérias”, disse. O executivo ainda frisou a ausência observada, até o momento, de efeitos adversos sérios nos voluntários que participaram do ensaio clínico. Para os desenvolvedores da vacina russa, um possível obstáculo na produção da Sputnik V pode ser uma imunidade menos duradoura, uma vez que os adenovírus utilizados, o Ad26 e o Ad5, são adenovírus humanos aos quais uma parte da população pode apresentar imunidade adquirida. Isto não deve, no entanto, ser um impedimento para a inclusão da Sputnik V no rol de vacinas dos países. “É importante que os países construam seus portfólios de vacinas incluindo pelo menos uma vacina de adenovírus, e nós acreditamos que a nossa vacina, por conter dois adenovírus distintos, é uma inclusão importante que vem mostrando bons resultados.” A vacina russa consiste em duas doses intramusculares aplicadas com 21 dias de distância. De acordo com os pesquisadores do Instituto Gamaleia, o uso de dois adenovírus como vetores é uma tecnologia única e foi resultado de uma engenharia genética avançada. A Sputnik V foi a primeira vacina contra o Sars-CoV-2 a receber uma aprovação regulatória no mundo, ainda no início de agosto. Segundo o governo, mais de 40 mil voluntários participaram dos testes de fase 3. No último dia 14, a Rússia registrou a sua segunda vacina no país, produzida pelo Instituto Vector da Sibéria.