SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Logo depois das primeiras gravações como Ritinha, de “Laços de Família” (2000-2001), Juliana Paes, então com 21 anos, disse ter ficado impressionada em observar como os atores mais experientes conseguiam se divertir nas gravações. Para a atriz, porém, era bem diferente. Em seu primeiro papel em uma novela, ela conta que não sabia nada e vivia em constante pânico e tensão. “Para mim foi muito penoso até pegar o jeito [de fazer TV]. Nossa senhora, quanta bronca eu levei”, diz. Aos 27 anos, Reynaldo Gianecchini também fazia a sua estreia em novelas, logo como o protagonista Edu, e afirma ter sensação semelhante. “Eu me sentia muito pequenininho diante daquela situação toda. Era um misto de muito prazer de estar lá e de muito sufoco.” Em conversa com jornalistas por videoconferência, os atores relembraram as dificuldades e os aprendizados que tiveram com a trama, reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, na Globo. Na faixa, a novela tem registrado média de audiência de 17 pontos no PNT (Painel Nacional de Televisão), cinco a menos que a média da antecessora, “Êta Mundo Bom!” (2016), considerada um fenômeno de audiência -cada ponto do Kantar Ibope equivale a 260.558 domicílios. Em tom bem-humorado, Juliana Paes lembra que chegou a dormir em uma das gravações. “Era uma cena enorme, com vários atores, eu só tinha que falar: ‘Não, senhora’. Sentei para esperar e cochilei”, diz, aos risos. Em outro momento, ela revela que aconteceu o contrário: perdeu o sono por três noites por causa de um momento importante que deveria gravar. Era quando Alma (Marieta Severo), a patroa de Ritinha, descobria que a empregada tinha engravidado de seu marido, Danilo (Alexandre Borges), e ia tirar satisfações com ela. “E estava escrito no roteiro: Rita chora, chora muito. E eu pensei: ‘Deus, não sei fazer isso'”, afirma. Nas madrugadas em claro, a atriz revela que ficava pensando quais fatos da sua vida pessoal poderia usar para se emocionar nas gravações, como a morte de um ente querido ou uma briga com um namorado. “E na hora quando a Marieta [Severo] veio com esses olhos, me segurou de verdade pelos braços, e de um jeito tão genuíno que eu senti a emoção brotar de verdade. Eu não precisei pensar em avô, em cachorro, em nada, eu entendi: é isso. Não tem que pensar em nada, tem que sentir. E foi o olhar dela que me deu isso, a força dela”, lembra. Juliana Paes fez questão de ressaltar a importância da atriz na sua trajetória artística. “Tenho que fazer esse agradecimento especial, porque ela tem um papel fundamental na minha carreira e, talvez, ela nem saiba.” Gianecchini aproveita a oportunidade para pedir desculpas a Marieta por não estar tão preparado à época, e reforça a generosidade e a espontaneidade com que a atriz, mesmo já muito mais experiente, acolhe os mais jovens na profissão. “Além de não saber nada, estava muito nervoso pelo peso da responsabilidade do tamanho do personagem e pela carga horária de trabalho. Tinha muita cena para gravar, era um turbilhão. E quem sofria com isso era a Marieta, porque a gente tinha muitos momentos juntos.” Presente ao encontro, Severo se emocionou com as declarações dos colegas e afirma que sempre acompanha e torce por Paes e Gianecchini. “Eu sentia ali que eram dois atores talentosos que vinham para a profissão para estar de uma maneira respeitosa, séria, que vinham para ficar.” DO TEATRO PARA A TV Embora mais experientes na profissão e com carreiras consolidadas no teatro, Soraya Ravenle e José Victor Castiel contam que também sofreram para se adaptar ao ritmo de gravações de uma novela das 21h, da Globo. Em “Laços de Família”, eles interpretaram o casal Yvete e Viriato. O ator lembra de um momento divertido, que aconteceu logo na sua primeira cena. Ele diz que estava muito nervoso, porque deveria contracenar com as personagens de Vera Fischer (a protagonista Helena) e Marieta Severo. “Se apoderou de mim o pânico: o que estou fazendo aqui?” Na sequência, Castiel relata que uma das atrizes errou. Foi quando ele teve um insight: “Meu Deus, elas erram. Então, talvez, eu possa errar também.” A partir daquele momento, o ator conta que foi ficando mais relaxado. Marieta Severo afirma que os mais habituados ao universo da TV não só erram, como ficam nervosos também. “Estamos em pânico o tempo todo, a verdade é essa. Só que a gente aprende a trabalhar com isso. Mas o pânico é constante, não passa. Depois de, sei lá, 55 anos de profissão não passa esse pânico, essa insegurança, esse nervoso. Faz parte, nunca nos acostumamos. Mas aprendemos a ficar acima de uma insegurança, de um medo.” Juliana Paes concorda: “A gente aprende a ficar criativo no caos. Mas tem dia que dá vontade de entrar no banheiro e dar um grito.”