SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As autoridades francesas lançaram uma grande operação policial contra movimentos jihadistas islâmicos presentes no país e prometeram uma “guerra contra os inimigos da República”, três dias após a decapitação do professor Samuel Paty. Paty, 47, ensinava história e geografia. Foi morto na rua após mostrar, em sala de aula do ensino fundamental, charges do profeta Maomé. Ele foi atacado na sexta (16), na periferia de Paris. O caso foi classificado como terrorismo. Foram abertos mais de 80 processos de investigação, tanto de pessoas envolvidas no caso quanto de militantes acusados de espalhar discursos de ódio em redes sociais ou que já haviam sido fichadas pelos serviços de inteligência. Até esta segunda (19), ao menos 15 pessoas foram presas por suspeita de ligação com o assassinato, incluindo quatro estudantes. Segundo uma pessoa que acompanha as investigações, um ou vários dos alunos do colégio onde Paty trabalhava ajudaram o assassino a identificar o professor, em troca de uma recompensa. O autor do crime é apontado como Abdullakh Anzarov, 18, nascido em Moscou, de origem chechena e refugiado na França. Ele foi morto pela polícia pouco depois do ataque. As investigações buscam esclarecer se ele agiu por conta própria ou cometeu o crime a mando de alguém. Gérald Darmanin, ministro do Interior, acusou o pai de uma aluna e o militante islâmico Abdelhakim Sefrioui de ter lançado uma sentença de morte contra o professor. Os dois homens lançaram uma campanha de mobilização contra Faty, que incluiu postagens em redes sociais. Ambos foram presos. O governo francês também disse que irá fazer operações contra mais de 50 associações que incluem militantes, e que várias delas serão fechadas. Entre os alvos, estão o CCIF (Coletivo contra a islamofobia na França) e a associação humanitária Baraka City. Ambas foram citadas como inimigas da República pelo ministro do Interior. A líder de extrema-direita Marine Le Pen pediu ao governo que deporte todos os estrangeiros presos por terrorismo ou que sejam considerados pessoas radicalizadas. O assassinato de Paty comoveu o país. Dezenas de milhares de pessoas fizeram um protesto pela liberdade de expressão no domingo (18). Nesta segunda, o Parlamento Europeu prestou um minuto de silêncio em homenagem ao professor. Um grupo de lideres muçulmanos levou flores até a frente do colégio onde Paty trabalhava. O imã Hassen Chalghoumi, disse aos repórteres que é hora da comunidade muçulmana acordar para os perigos do extremismo. “[O professor] é um mártir da liberdade de expressão, e foi um homem sábio que ensinou tolerância, civilidade e respeito aos outros”, disse Chalghoumi, presidente da Conferência dos Imãs da França. “Temos de acabar com o discurso de vitimização. Nós todos temos direitos na França, como todo mundo. Os pais devem ensinar aos filhos as coisas boas que existem nessa República”, prosseguiu.