SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Por volta das 14h desta segunda-feira (19), a dona de casa Camila Freitas Gonçalves, 31 anos, chegou à porta da Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Brigadeiro Correia de Mello, em Itaquera (zona leste), para deixar o seu filho Pedro Eduardo, 9 anos, para o primeiro dia de volta às aulas, após o início da pandemia do novo coronavírus. “Eu topei que ele voltasse porque não temos acesso à internet e, por isso, ele não conseguiu fazer nenhuma das atividades durante a quarentena”, afirma a mãe do garoto, matriculado na quarta série. “Ele também não recebeu a primeira trilha [material didático] da educação com as atividades, então não tinha nem o online e nem em papel”, reclama. Sobre a Covid-19, ela admite que está receosa. “A gente não sabe como estão as coisas, não sabe o que vai acontecer.” A unidade de Itaquera, que atendia cerca de 340 alunos do ensino fundamental antes da pandemia, é uma das 15 escolas municipais que retornam as atividades escolares, nesta semana, ainda com algumas restrições relacionadas a quantidade de alunos e as medidas sanitárias de combate à Covid. O governo estadual liberou o retorno as aulas, mas cada prefeitura tem autonomia para decidir sobre a volta dos alunos. Jaqueline Fortunato da Silva, 28 anos, é outra mãe que está preocupada com o novo coronavírus, mas decidiu enviar seu filho para a escola mesmo assim. Ítalo Fortunato da Silva, 9 anos, também do quarto ano do ensino fundamental, estava ansioso para voltar. “Eu ainda tenho medo. Mas ele chorou, disse que não via os amigos por muito tempo, pediu para voltar. Por um lado é bom que volte às aulas, ele tava sentindo falta e é um lugar onde ele aprende. Por outro lado ainda existe a doença”, conta. Dezoito crianças foram cadastradas para retornar para a Emef no período da manhã e mais 12 crianças na parte da tarde nesta segunda-feira. Todos os dias, a escola receberá ao máximo 30 alunos para conseguir manter as regras de combate a disseminação do novo coronavírus. Recepção Ao chegar, as crianças tiveram a temperatura medida por um funcionário. Fizeram uma refeição –macarrão com frango, salada de cenoura e maçã– e foram encaminhadas paras salas de aula. Na entrada da escola e em outros pontos da unidade, existia álcool em gel para que servidores e estudantes higienizassem as mãos. Nas duas classes disponíveis, neste primeiro dia, apenas seis carteiras estavam dispostas para que fosse possível o distanciamento social. No primeiro dia, os alunos receberam orientações sobre a Covid-19. Nas próximas aulas, terão atividades de educação física, reforço de matemática e de português. Cada grupo de 30 alunos irá duas vezes na semana para a escola. “A prioridade é atender quem não tem acesso à internet. O público que a gente atende, em relação à condição social, é de extrema vulnerabilidade”, afirma Fábio Silveira, que é diretor da escola há três anos. Segundo ele, ajudar a comunidade atendida pela escola foi uma das principais motivações para o retorno às aulas, tanto por parte da direção da unidade, como do conselho escolar. “Muitos estavam passando fome durante a pandemia, muitos alunos se quer tem banheiro em casa, o que dificulta até mesmo o combate ao coronavírus. O meu salário está garantido no fim do mês, eu não passei necessidade, mas muita gente precisa da escola”, diz. OUTRO LADO A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), afirma que o retorno foi facultativo e 15 escolas municipais optaram pela retomada “após decisão democrática do conselho de escola, que é composto por professores, alunos, familiares e comunidade escolar”. Em relação ao material didático “Trilhas de Aprendizagem”, a gestão municipal afirma que a “primeira edição foi entregue pelos Correios que, por falta de atualização cadastral, não encontrou o imóvel ou após mais de três tentativas frustradas de entrega, acabaram voltando para as escolas”. Segundo a prefeitura, “para garantir o recebimento de todos, a segunda edição foi entregue pelas escolas diretamente aos familiares dos alunos, como a reportagem pode constatar em visita à Emef Brigadeiro”.