SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vagner Mancini começou a semana falando em fazer “o Corinthians voltar a ser Corinthians” e teve uma estreia com a cara do clube: 1 a 0 sobre o Athletico, nos acréscimos, com um jogador a menos. Agora, o treinador tenta fazer da suada conquista em Curitiba o início de um trabalho de recuperação. Há obstáculos consideráveis para isso. Não foi por acaso que ele assumiu a equipe na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro, com apenas 15 pontos em 15 rodadas e semelhanças assustadoras com a trajetória do clube em 2007, que terminou em queda à segunda divisão. Ainda que tenha bons jogadores, o elenco é notoriamente desequilibrado, com lacunas reconhecidas pela própria diretoria. E os atletas de maior qualidade, referências técnicas do grupo alvinegro, estão bem longe de seus melhores momentos, casos de Cássio, Fagner, Gil e Jô. A temporada até aqui foi uma fracassada tentativa de adotar um futebol ofensivo, com conceitos tidos como modernos na construção das jogadas. Sob Tiago Nunes, contratado para conduzir uma transformação, o Corinthians perdeu a consistência defensiva que tinha e ganhou nada em troca. Não causou estranheza, portanto, que Mancini tenha chegado cobrando a recuperação da identidade alvinegra. Referia-se à raça que os torcedores tanto exigem, mas também a um modelo de jogo baseado na proteção firme da retaguarda, marca do clube nas conquistas recentes. Na estreia, o paulista de 53 anos procurou fechar a cabeça da área com três volantes e ordenou que os jogadores escalados pelas beiradas se juntassem a eles na linha de marcação. Precisou de ótima atuação do goleiro Walter, mas conseguiu celebrar uma vitória pelo placar mínimo. O gol foi um retrato da mudança. Em vez de insistir em uma saída de bola por baixo que só vinha lhe causando problemas, o Corinthians começou a bater os tiros de meta na direção do ataque. No lance decisivo, Boselli e Xavier brigaram após o chutão, e Everaldo aproveitou a chance. Muito comemorado pelos atletas na Arena da Baixada, o resultado levantou o moral de um time que vinha de cinco partidas sem vencer. Mancini observara o abatimento no primeiro contato com os jogadores e explicara que buscar uma reação emocional seria o primeiro passo. Ele foi dado, porém os problemas persistem. Como ocorreu com Tiago Nunes e com o interino Coelho, o novo comandante já percebeu que tem limitadas opções de velocidade no grupo, com atletas como Léo Natel e Gustavo Silva se revezando nas pontas. “Eu sempre pratiquei um jogo agressivo: agressivo no combate na parte defensiva e agressivo para buscar o gol”, disse o treinador, que, a não ser que a diretoria lhe presenteie com um reforço inesperado, terá dificuldades para organizar esse tipo de ataque. Com ou sem novos jogadores, o técnico precisará de uma participação mais consistente de quem já está no elenco. Para conquistar seu primeiro triunfo, ele se apoiou em boas partidas de Walter, Xavier e Mateus Vital, que não são os habituais protagonistas. Fazer aqueles que são os principais atletas voltarem a render é uma das chaves para Mancini ter uma vida mais longa no clube do Parque São Jorge. Outra é achar em ao menos um dos meias que chegaram neste ano alguém capaz de oferecer uma produção ofensiva confiável. Luan tem sido uma grande decepção. Otero e Cazares, que atuaram com o técnico no Atlético-MG, desembarcaram faz menos tempo e trabalham para ganhar espaço. Como se vê, há problemas, mas também alternativas. E, apesar da recepção pouco calorosa que teve dos torcedores e do currículo de sucesso limitado, Vagner Mancini já se mostrou capaz de montar equipes organizadas -como o Atlético-GO que deixou para assumir o Corinthians. Por ora, a meta é apenas ganhar distância da zona de rebaixamento e deixar para trás o lúgubre espectro de 2007. Se esse modesto objetivo for alcançado, o time poderá almejar algo mais ambicioso.