GUARIBA, SP (FOLHAPRESS) – A Raízen, principal grupo sucroenergético do país, inaugurou nesta sexta-feira (16) a maior usina de biogás com produção a partir de derivados da cana-de-açúcar do mundo. Instalada na usina Bonfim, em Guariba (a 339 km de São Paulo), a planta vai produzir o biogás por meio de vinhaça e torta de filtro, dois subprodutos da cana. O projeto da planta de biogás foi iniciado em agosto de 2018 com o objetivo de diversificar o portfólio do grupo, que já incluía por exemplo a produção de etanol de primeira e segunda geração e cogeração de energia elétrica. A usina tem capacidade para produzir 138 mil MWh por ano, o suficiente para abastecer uma cidade como Araraquara, de 238 mil habitantes. O plano é atingir essa capacidade na próxima safra de cana. Desse total de energia gerada, 96 mil MWh serão vendidos dentro de um contrato negociado em leilão de 2016, no qual a Raízen foi a vencedora. O excedente poderá ser negociado no mercado livre ou outros contratos. A planta em Guariba é resultado de uma joint venture entre o grupo e a Geo Energética, que já opera uma planta no Paraná. Outras duas estão em desenvolvimento, conforme Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, o que mostra que é um mercado que aos poucos vai ganhar corpo no país. “No Paraná, ela começou com 4 MWh e está indo para 16 MWh.” Segundo ele, o potencial é muito grande no setor sucroenergético, podendo alcançar três vezes o volume de gás que o Brasil importa da Bolívia. “É uma importância extraordinária, apenas no setor sucroenergético [potencial de] 56 milhões de metros cúbicos/dia, o que é praticamente três vezes o volume de gás que o Brasil hoje importa da Bolívia, 20 milhões de metros cúbicos. Transformado em diesel equivalente, por que o biogás substitui o diesel, estamos falando de um potencial no Brasil de substituir 44% do diesel utilizado por biogás verde.” Presidente da Raízen, Ricardo Mussa disse o grupo está entregando “tecnologia aliada à sustentabilidade por meio de uma das maiores plantas de biogás do mundo a partir de subprodutos do processo industrial”. Com a mesma quantidade de cana será possível aumentar a produção de energia em até 50%, sem alteração na área plantada. Mil toneladas de cana produzem 50 MWh por meio do processo de queima da palha da cana, total que agora ganhará mais 25 MWh por meio da biodigestão de torta de filtro e vinhaça. O resíduo resultante do processo de produção do biogás será usado como adubo “turbinado”, rico em potássio, fósforo e nitrogênio. A planta vai operar durante todo o ano, produzindo energia durante a safra a partir do processamento da vinhaça, e, na entressafra, a partir da torta de filtro processada. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou da inauguração e disse que a unidade é a materialização da capacidade de empreender do brasileiro. Disse ainda, ao se referir ao ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) que a pasta não atrapalha a vida dos agricultores, ao contrário do que, segundo ele, ocorria no passado em órgãos como Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Bolsonaro disse que “o Ministério do Meio Ambiente não atrapalha a vida do empresário” e que seu governo “não cria dificuldades para vender facilidades”. O ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia), disse que a planta vai contribuir com a segurança energética do país e também é um exemplo de como ter economia de baixo carbono. “Essa usina de biogás é pioneira, mas em face daquilo que a cana-de-açúcar representa para o país e para o setor energético, tem grande potencial para que isso venha a se multiplicar e possa não só atender a questão da energia mas tantas outras que dizem respeito ao combustível automotivo e complemento ao gás natural.” Nastari disse que o avanço de usinas de biogás cria uma referência para o uso de resíduos orgânicos em várias áreas. “Não é só no setor sucroenergético, é aproveitamento de resíduos na área de frigoríficos, na área de resíduos de outras culturas, como soja, milho, trigo, arroz. É um potencial enorme, inclusive nos estados em que tem suinocultura, avicultura.” A Raízen tem 26 unidades de produção de açúcar, etanol e bioenergia, com capacidade para moer 73 milhões de toneladas de cana. Na safra 2019/20, produziu 2,5 bilhões de litros de etanol e 3,8 milhões de toneladas de açúcar. Durante a solenidade, nenhuma das 16 autoridades sentadas no palco usou máscaras, entre eles o próprio presidente e os ministros Albuquerque, Salles e Braga Netto (Casa Civil). Bolsonaro e mais quatro políticos usavam camisas do XV de Piracicaba, patrocinado pela empresa –a sede da Raízen fica em Piracicaba.