FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – A eleição de 2020 para a Prefeitura de Florianópolis tem, na realidade, duas disputas. Uma para tentar tirar o favoritismo do atual prefeito, Gean Loureiro (DEM), que busca a reeleição, e outra para a vaga em um eventual segundo turno. Alvo de um processo de impeachment, o governador comandante Carlos Moisés (PSL) não se pronunciou sobre qual candidato deve apoiar, enquanto nenhum dos postulantes citou até o momento que pretende contar com o apoio do governador. Entre os dez candidatos da disputa, três nomes devem ganhar projeção. São eles a ex-prefeita Angela Amin (PP), com umas das mais bem avaliadas gestões da capital catarinense, Pedro Silvestre, o Pedrão (PL), vereador que conquistou maior votação para o cargo no estado em 2016, e o professor Elson Pereira (PSOL), que conseguiu reunir a esquerda em chapa única, algo que não ocorria desde 1996. A chapa PSOL-PT catarinense, que se reúne a outros cinco partidos, repete a união da esquerda vista para a disputa da Prefeitura de Belém. Aos 57 anos, professor Elson entrou para o PSOL em 2009 e já concorreu duas vezes ao comando da capital catarinense pelo partido, em 2012 (4º lugar) e 2016 (3º lugar). Sem experiência em cargos legislativos, o professor de engenharia civil da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) chegou a disputar a eleição para deputado estadual em 2014 e 2018, sem conseguir se eleger. Pedrão, vereador de 33 anos, é o que dá ares novos à disputa -Angela, Gean e Elson protagonizaram a eleição municipal há quatro anos. Eleito pela primeira vez em 2012, Pedrão entendeu a potência das redes sociais, sendo sua ferramenta de comunicação com a população, o que justifica em parte sua votação recorde em 2016. Este ano, porém, ele não é estrela solitária nas plataformas e tem pouco tempo no horário eleitoral para tentar fazer subir seus 9% de preferência, segundo pesquisa do Ibope divulgada na segunda-feira (5). Apesar de baixo, o percentual o coloca na terceira posição entre os preferidos. Numa configuração um tanto peculiar do cenário florianopolitano, Elson e Pedrão acabam disputando votos da centro-esquerda, muito por causa da atuação do pelista enquanto vereador, focada em proposições de mobilidade e transparência. As pesquisas na capital catarinense, porém, não costumam conseguir medir o voto da esquerda. Num dos primeiros levantamentos de 2016, Elson apareceu em terceiro, com 10% da preferência, seguido por Angela Albino (PC do B), com 5%. Nas urnas, ele quase tirou Angela Amin do segundo turno e acabou com 21% dos votos, apenas quatro pontos percentuais atrás da adversária (25%). A pepista, aliás, tenta liderar novamente a prefeitura da capital catarinense. Aos 66 anos, ela comandou Florianópolis de 1997 a 2004. Hoje no quarto mandato como deputada federal por Santa Catarina, ela lidera coligação impensável até recentemente. Apoiador do Lula no estado no segundo turno de 2002, o PP forma chapa com o tucano João Batista, vice-prefeito de Gean. O partido também foi rival histórico do MDB, tanto pelo comando da capital como do estado. Marido de Angela, Espiridião disputou o cargo de governador com o então peemedebista Luiz Henrique da Silveira em 2002 e 2006 -e perdeu nas duas ocasiões. Angela amargou ainda derrota para Gean, então candidato a prefeitura pelo PMDB em 2016, em segundo turno. Hoje, enfraquecido no estado, o partido integra a chapa de Angela, que possui maior tempo de televisão entre os candidatos. Com 15% das intenções de voto, segundo o Ibope, ela está tecnicamente empatada com Pedrão e Elson, pois a margem de erro do levantamento é de quatro pontos percentuais. A forte ligação de Angela com a capital é outro ponto que lhe favorece. Sua gestão sempre foi muito bem avaliada, tendo sida eleita a melhor administração municipal por seis vezes em levantamento do Datafolha. Ela foi ainda a única candidata à prefeitura de Florianópolis a se eleger no primeiro turno, em 2000, desde que existe a disputa em segundo turno. E mesmo que a ex-prefeita tenha protagonizado um duelo apertadíssimo em 2016, em que ficou com 49,74% dos votos no segundo turno (diferença de 1.153 votos), pesa contra ela a excelente avaliação de Gean e o fato de os eleitores da capital terem o costume de reeleger o prefeito. Com 44% da preferência do eleitorado segundo o Ibope, uma largada que se aproxima apenas a de Angela em 2000, o prefeito capitaliza em cima de uma gestão com avaliação de 58% de ótimo ou bom, segundo o Ibope. Além do destaque positivo durante a pandemia, em que contrariou o governo do estado e fechou a cidade ainda no início de março, Gean se destaca por obras como o alargamento da faixa de areia em Canasvieiras, que saltou de 5 metros para 35 metros, e outras no centro da cidade. O que não se vê, entretanto, na disputa da capital catarinense é uma atuação forte do bolsonarismo. Discretamente, o PSL apoia Angela, mas o governador do estado, Carlos Moisés, alvo de processo de impeachment, é invisível na corrida -o chefe do governo de Santa Catarina, aliás, não tende a ser bom cabo eleitoral, por um sentimento na cidade de que o estado não faz o suficiente por sua capital. Dois candidatos buscam esse voto da onda conservadora na cidade que elegeu Jair Bolsonaro com 65% dos votos em 2018. Pelo Patriota, Hélio Barros tenta deslanchar sua candidatura, mas não é conhecido pela militância do presidente. Disputa com ele Alexander Brasil (PRTB), que era do movimento Vem pra Rua. Ambos, têm 1% das intenções de voto cada na última pesquisa Ibope. Entre os outros candidatos, estão ainda Gabriela Santetti (PSTU), professora de história, foi candidata a prefeita e a deputada federal pelo PSTU nas últimas eleições, de 2016 e 2018; Ricardo Vieira (Solidariedade), médico de família, foi vereador em Florianópolis entre 2008 e 2016; Jair Fernandes (PCO), carpinteiro, concorre em uma eleição pela primeira vez e Orlando Silva (Novo), professor de direito empresarial na UFSC, também disputa um pleito pela primeira vez.