PT já impõe prazos a Tatto e debate a possibilidade de apoiar Boulos em SP

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dirigentes petistas discutem a possibilidade de adesão à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) caso o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Jilmar Tatto, não atinja dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto até o fim deste mês. Tatto tem 1% no último levantamento do Datafolha, realizado nos dias 5 e 6, e Boulos, 12%. A corrida é liderada por Celso Russomanno (Republicanos), com 27%, seguido do prefeito Bruno Covas (PSDB), que tem 21% -a margem de erro é de três pontos para mais ou para menos. No PT, até mesmo a hipótese de retirada da candidatura de Tatto em favor de Boulos chegou a ser debatida durante reunião entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Gilberto Carvalho. Além disso, a crise na campanha petista já motivou discussões sobre punição de candidatos a vereador do partido que escondam o nome de Tatto em suas propagandas. Chefe de gabinete da presidência do PT, Carvalho foi recrutado pela presidente do partido, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), para reforçar a campanha de Tatto em São Paulo. Na coordenação da campanha desde 21 de setembro, Carvalho fez, há cerca de dez dias, um relato a Lula sobre as chances do partido na capital paulista. A reportagem apurou que Carvalho admitiu a possibilidade de revisão da candidatura caso a campanha não decole até o fim de outubro, prazo para a retirada dos nomes das urnas. Carvalho afirmou que o partido tem juízo suficiente para não persistir em uma candidatura sem viabilidade eleitoral. Disse, porém, que Tatto tem possibilidade de ultrapassar Boulos, especialmente depois da aparição de Lula na propaganda em TV e rádio. Coordenadores da campanha de Tatto apostam na associação com a imagem de Lula para que ele supere dez pontos percentuais até a última semana do mês, com possibilidade de crescimento na reta final de campanha. Questionado pela reportagem sobre suas reuniões com o ex-presidente, Carvalho disse que não comentaria o teor das conversas com Lula. Ele lembrou o desempenho do PT nas eleições passadas. Em 2016, em pleno processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o então prefeito e candidato à reeleição, Fernando Haddad, obteve 16,7% dos votos. Candidato do PT ao Governo de São Paulo em 2018, Luiz Marinho alcançou pouco mais de 16% na cidade. “O Jilmar tem potencial de crescimento”, afirma Gilberto Carvalho. Coordenador de comunicação da campanha de Tatto, o deputado estadual José Américo cita o potencial de transferência de votos de Lula e diz que o PT conta com diretórios nas regiões de todas as subprefeituras, o que confere capilaridade à campanha. Afirma que, com isso, Tatto “vai passar de 20%”. Dentro do PT, porém, os simpatizantes de um acordo pelo qual Lula estaria liberado para pedir votos para Boulos afirmam que essa é uma eleição atípica em decorrência da pandemia do coronavírus e que, por isso, não se deve fazer projeções com base na trajetória passada da sigla. A um mês do primeiro turno, a campanha de Tatto enfrenta percalços. Na noite do dia 12, durante reunião da coordenação de campanha, Carvalho queixou-se da ausência de apoiadores de Tatto, horas antes, na saída de uma igreja. Segundo participantes da reunião, o ex-ministro disse que o candidato estava sozinho, não era abordado por eleitores nem acompanhado por militantes petistas. José Américo afirma que a ausência de militantes seguiu orientação dos padres, temerosos de aglomeração devido à pandemia. Outra justificativa para a ausência de apoiadores foi o fato de a agenda de Tatto ter sido alterada no mesmo dia. Na reunião da coordenação de campanha, foi discutida também a possibilidade de punição de candidatos a vereador que escondam o nome de Tatto no material de campanha. Segundo petistas, a atuação de 20 candidatos a vereador com potencial eleitoral merecerá maior atenção. Em eleições anteriores, a esquerda foi dependente da atuação de líderes de movimentos, associações e entidades que promovem ações sociais na periferia. Desta vez, os grupos estão divididos entre Tatto e Boulos, conforme mostrou a Folha de S.Paulo. Artistas como Caetano Veloso e Chico Buarque, intelectuais e personalidades historicamente ligadas ao PT também chegaram a assinar um manifesto em agosto em apoio a Boulos, ampliando o isolamento na esquerda do nome do PT. A própria convenção para lançar Tatto oficialmente foi precedida de crise interna devido à possibilidade de esvaziamento do evento. Apesar da ameaça de uma derrota eleitoral acachapante, líderes petistas duvidam da disposição de Tatto de desistir da candidatura em favor de Boulos. Patrocinador da candidatura de Luiz Marinho à presidência estadual do PT e apoiador de Gleisi Hoffmann para o comando partidário, Tatto teve o suporte dos dois dirigentes petistas para barrar o lançamento da candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha à Prefeitura de São Paulo. Haddad chegou a procurar a ex-prefeita Marta Suplicy para que ocupasse a vice de Padilha em uma chapa para a prefeitura, mas a articulação foi abortada. Segundo petistas, Marinho e Gleisi dissuadiram Lula de trabalhar abertamente em favor de Padilha, sob o argumento de que Tatto teria ampla maioria em uma eleição indireta para a escolha do candidato. Tatto teve 312 votos. Padilha, 297. Petistas duvidam até mesmo da chance de Lula convencer Tatto a desistir. Além disso, uma ala do PSOL, refratária ao PT, imporia um constrangimento a acordo com petistas. Já no PT o setor ligado à moradia faz restrições a uma articulação com Boulos, que também atua com movimentos de sem-teto. Um dirigente petista afirma, porém, que o desfecho de qualquer articulação dependerá da dinâmica da campanha até o fim de outubro. Com cuidado para não melindrar os petistas, Boulos precisa crescer na periferia para consolidar os votos de esquerda –e Tatto também precisa se viabilizar nas chamadas franjas da cidade.

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