SIMONE MACHADO
SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – “Fui demitido no começo da pandemia. Enviei dezenas de currículos, nas mais diversas empresas, mas estava difícil conseguir um emprego. Já estava desesperado, sem saber o que fazer”, relata o porteiro Vanderlei Ronaldo Padilha, 45, pai de três filhos.
Situação semelhante à vivida pelo promotor de vendas Marcelo Andrade Silveira, 37, que, devido a um corte de gastos na empresa em que trabalhava, foi demitido no ano passado. Com a chegada da pandemia do coronavírus, ele viu a meta de voltar ao mercado de trabalho ficar distante.
“Foram mais de 2.000 currículos entregues e nenhuma resposta positiva”, lembra Marcelo.
Na última semana, a Pnad- Covid, pesquisa do IBGE que busca dimensionar a situação do trabalho no país durante a pandemia, indicou que o mercado de trabalho teve uma leve recuperação após o relaxamento das medidas de isolamento social no país, mas 12,9 milhões de brasileiros ainda procuravam uma ocupação.
Uma iniciativa simples, no entanto, fez com que Vanderlei, Marcelo e outros 66 moradores de Porto Alegre deixassem de fazer parte dessa estatística negativa nas últimas duas semanas.
Eles conseguiram recolocação no mercado de trabalho de uma forma um tanto quanto inusitada: colocando na máscara de proteção contra o coronavírus um papel escrito a profissão que buscavam, com o objetivo de chamar a atenção de possíveis contratantes.
Com “Sou porteiro, me contrate” fixado à máscara, Vanderlei passou a fazer suas atividades diárias, como ir ao mercado, padaria e até mesmo entregar currículos. Em 10 dias ele conseguiu uma recolocação.
“Eu estava no supermercado e o proprietário de um condomínio viu através da minha máscara que eu buscava uma vaga de porteiro e me chamou para uma entrevista. Fui contratado e estou no meu primeiro mês de trabalho”, diz Vanderlei.
Usando a mesma estratégia, Marcelo conseguiu um emprego na área de vendas em apenas três dias. Ele estava em um ponto de ônibus quando ouviu um morador falando sobre o “novo” método de procurar emprego e resolveu arriscar.
Usando na rua a máscara mostrando sua busca por recolocação, ele foi abordado no estacionamento de um supermercado pelo dono de uma empresa de revenda de produtos hospitalares. Foi chamado para uma entrevista e admitido. “Foi uma ideia que caiu do céu e me ajudou muito. Eu não esperava que iria me recolocar tão rápido”, diz.
A ideia de estampar na máscara de proteção a vaga que o candidato busca foi do agente de empregos Kaká D’Ávila. A estratégia se espalhou pela cidade e muita gente passou a ser o seu próprio anúncio, um currículo ambulante.
O projeto recebeu o nome de “Tá na cara que eu quero um emprego”, e em 15 dias 68 pessoas já deram retorno para o Kaká dizendo que foram contratadas dessa forma. “Já que as pessoas precisam usar a máscara para a proteção, que ela seja usada também como uma espécie de vitrine. Esse papel na máscara chama a atenção. A gente cruza com inúmeras pessoas diariamente, não sabemos se de repente alguma delas é alguém que tem uma vaga disponível”, diz o agente de empregos.
No início do projeto Kaká confeccionava as máscaras e colocava os papéis com as profissões mais comuns. Mas, por questões de higiene, parou de entregar máscaras e hoje espalha a ideia nas ruas da capital do Rio Grande do Sul. “Eu abordo as pessoas na rua, nos pontos de ônibus e pergunto se elas estão em busca de emprego ou conhecem alguém que está desempregado. Explico o projeto e mostro que é simples fazer e que dá resultado”.
Segundo, os profissionais que mais foram contratados nesse período são porteiros, higienizadores e profissionais para atuar na área comercial.
Além de espalhar a ideia, o agente de empregos também recebe currículos e os encaminha para empresas da cidade.