BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os responsáveis pelo desenvolvimento da vacina russa Sputnik V, contra o novo coronavírus, pretendem usar o Brasil e outros três países Índia, Coreia do Sul e Cuba como um hub para a produção e a exportação da nova imunização. Em entrevista coletiva virtual com jornalistas do mundo inteiro nesta quinta-feira (20), os pesquisadores e o representantes do Fundo de Investimento Direto da Rússia também anunciaram que a testagem clínica da nova vacina em 40 mil voluntários vai ter início na próxima semana. Questionado sobre a capacidade de produção da vacina para atender a demanda, Kirill Dmitriev, diretor-presidente do Fundo de Investimentos Diretos da Rússia, respondeu que a solução será recorrer a países estrangeiros. Nós estamos vendo que o fator-chave é a produção da vacina em outros países. E vou aqui destacar Índia, Brasil, Coreia do Sul e Cuba. Eles têm potencial para produzir a vacina e servir de hub, de base, para a produção, disse o diretor. Dmitriev também afirmou que os responsáveis pela vacina já possuem os resultados dos testes clínicos das fases 1 e 2, mas que esses dados só serão compartilhados com os países parceiros. Temos contato com os embaixadores de vários países sobre a exportação. Já temos a informação sobre as primeiras fases dos testes e vamos divulgar essas informações para os ministérios da saúde dos países parceiros que mostram interesses, disse. Quem mostrar interesse, vai receber as informação sobre a vacina. Claro que vamos priorizar os países que mostram maior interesse. “Vamos fazer os ensaios clínicos não só na Rússia, mas também na Arábia Saudita, talvez na Índia e no Brasil e na Filipinas”, disse. No entanto, não ficou claro se esses testes fariam parte da aplicação da vacina nos 40 mil voluntários. O anúncio da aplicação de testes nos voluntários foi o primeiro detalhe divulgado pelos russos a respeito da proporção e da metodologia dos testes. Em 11 de agosto, o governo russo anunciou a aprovação para a vacina Sputnik, a primeira imunização do mundo a obter uma autorização das autoridades nacionais. Pesquisadores e líder mundiais, no entanto, expressaram desconfiança em relação à nova vacina. O principal motivo seria a falta de transparência dos russos, que se recusavam a divulgar resultados prévios de fases anteriores dos testes. No Brasil, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, afirmou que os dados a respeito da vacina russa eram muito rasos e incipientes. A coletiva de imprensa desta quinta-feira foi a primeira de uma série de encontros que os russos prometem para esclarecer dúvidas a respeito da vacina. O evento virtual teve tradução simultânea para oito idiomas. Durante o evento, os pesquisadores do instituto Gamaleya explicaram que a vacina utiliza dois tipos de adenovírus humanos que atuam como vetores para transportar para dentro dos organismos genes de uma proteína. Serão duas doses, aplicadas em um intervalo de 21 dias, com dois vetores adenovírus diferentes inicialmente o vetor AD.26 e posteriormente o AD.5. Segundo o instituto, esses princípios são parecidos com a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford. Os representantes afirmaram que o avanço rápido da vacina se deu em grande parte por conta dos estudos já concluídos ou em andamento para as vacina contra o ebola e contra a MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). Com base nos resultados com o ebola, cujos voluntários continuam em acompanhamento, a expectativa é que a vacina ofereça imunização por um período de dois anos, segundo o diretor do instituto, Alexander Gintsburg. Questionado sobre a rapidez, Gintsburg afirmou que 3 mil voluntários já tomaram vacinas com adenovírus humano nos últimos cinco anos, desde as pesquisas contra o ebola. Os testes iniciais em humano foram aplicados em um grupo de 38 voluntários, de 18 a 60 anos, segundo os pesquisadores com imunização completamente eficaz. Os únicos efeitos colaterais foram dor de cabeça e hipertermina (febre). A vacina russa também foi testada em animais, como coelhos, ratos e macacos, sem efeitos colaterais, segundo o vice-diretor científico do Gamaleya, Denis Logunov. A previsão é promover uma vacinação em massa em outubro. No mês seguinte, pretendem começar a exportar a nova imunização.