SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quase metade dos brasileiros viu sua renda familiar diminuir com a pandemia do coronavírus, aponta pesquisa Datafolha. Entre informais, autônomos e empresários, a perda de renda atingiu dois de cada três entrevistados. Segundo o Datafolha, 46% dos brasileiros constataram redução de sua renda familiar devido à pandemia. Outros 45% dizem que a renda de sua família ficou igual e 9% tiveram aumento do rendimento familiar, mesmo em meio à crise. O instituto ouviu 2.065 pessoas por telefone em 11 e 12 de agosto. A margem de erro é de dois pontos percentuais. Por faixa de renda, os trabalhadores com renda familiar até dois salários mínimos são os que mais relatam perda de rendimento (48%). O percentual diminui para 46% entre trabalhadores com renda familiar entre dois e cinco salários, a 36% para aqueles com renda entre cinco e dez salários e a 34% para os profissionais cujas famílias ganham mais de dez mínimos. Por tipo de ocupação, assalariados sem registro são os que mais relatam perda de renda familiar (61%), seguidos por empresários (56%) e autônomos (54%). Já por tipo de isolamento na pandemia, 48% dos que estão saindo de casa só quando inevitável relatam perda de renda familiar, comparado a 30% dos que dizem que estão vivendo normalmente. Considerando a avaliação do governo, 52% do que acham o governo Bolsonaro ruim ou péssimo relatam perda de renda da família, comparado a 39% dos que consideram o governo ótimo ou bom. Entre os entrevistados que dizem que a renda de sua família aumentou na pandemia, o maior percentual é registrado no Nordeste (15%) e Centro-Oeste e Norte (12%). Por cor, pretos (11%) e pardos (10%) sentiram mais esse efeito do que brancos (7%) e amarelos (5%). O auxílio emergencial provavelmente explica em parte esse aumento de renda em meio à crise. Segundo dados do IBGE, as regiões Nordeste e Norte concentravam maior proporção de pessoas em extrema pobreza antes da pandemia -aquelas com renda inferior a R$ 145 por pessoa por mês. A baixíssima renda também era mais prevalente entre pretos e pardos. Com o auxílio emergencial, algumas dessas pessoas muito pobres passaram a ter renda maior do que antes da crise, já que o valor do benefício pode chegar a R$ 1.200 por família, contra média de R$ 190 do Bolsa Família. Conforme estudo recente da FGV, o auxílio levou o número de brasileiros em extrema pobreza ao menor patamar em 40 anos. Ainda segundo o Datafolha, entre os entrevistados que receberam pelo menos uma parcela do auxílio, 60% relatam perda de renda familiar devido à pandemia, outros 27% dizem que a renda de sua família ficou igual e 13% relatam que a renda da família aumentou. Entre os que não pediram o auxílio, os percentuais são de 36%, 55% e 8% respectivamente. OCUPAÇÃO O coronavírus também mexeu com o perfil da ocupação no país, mostra o Datafolha. Dos entrevistados, 28% dizem que eram assalariados registrados antes da pandemia, percentual que caiu a 21% no momento atual. Já os desempregados em busca ativa por trabalho eram 4% antes da pandemia e chegaram a 12% atualmente. Ao mesmo tempo, os desocupados que não estavam procurando trabalho subiram de 1% para 5%. Assim, chegam a 17% os sem emprego, somando aqueles que estão procurando e os que não estão buscando oportunidades de trabalho. As mulheres que se identificam como donas de casa passaram de 6% antes da pandemia para 9% atualmente, aponta ainda a pesquisa. REDUÇÃO DE JORNADAS E SALÁRIOS Entre assalariados registrados e funcionários públicos, 39% dizem que tiveram sua jornada de trabalho reduzida devido à pandemia. O percentual é significativamente maior entre as mulheres (46%) do que entre os homens (33%). Por idade, os com 60 anos ou mais, grupo de alto risco para o coronavírus, são os que mais relatam redução de jornada devido à pandemia (54%). A redução de jornada também afetou mais os trabalhadores de baixa renda do que os de alta renda. Enquanto 42% dos com renda familiar até dois salários mínimos dizem que tiveram suas horas de trabalho reduzidas, esse percentual cai a 16% entre aqueles com renda familiar acima de dez salários. A maior possibilidade de fazer home office entre os trabalhadores mais bem remunerados provavelmente explica a discrepância. Segundo dados da pesquisa Pnad Covid-19 do IBGE, em junho, 37% das pessoas com ensino superior ou pós-graduação estavam trabalhando remotamente, comparado a 0,6% das pessoas sem instrução ou com fundamental incompleto, 1,4% das pessoas com fundamental completo ou ensino médio incompleto e 7,3% das com médio completo ou superior incompleto. Ainda entre assalariados registrados e funcionários públicos, 23% relatam ter sofrido redução de salário devido à pandemia, mostra o Datafolha. Aqui novamente, há discrepância entre homens e mulheres, com 29% delas relatando perda salarial, contra 19% deles. Entre informais, autônomos e empresários, 62% relatam perda de rendimentos devido à pandemia. Mas, nesse universo, há menor disparidade entre homens (63%) e mulheres (60%). APOSENTADORIA E BOLSA FAMÍLIA Cerca de 30% dos entrevistados relatam receber ou ter alguém da família recebendo aposentadoria do INSS. Nesse grupo, 56% relatam que a aposentadoria é a principal fonte de renda da família. O percentual dos que tem na aposentadoria a maior parcela da renda do lar chega a 71% entre os entrevistados com renda familiar até dois salários mínimos que recebem ou tem algum familiar recebendo o benefício. Por regiões, o percentual dos que tem na aposentadoria a maior parcela da renda da família é mais elevado no Nordeste (64%) e no Sul (63%). E por tipo de ocupação, entre desempregados (86%), donas de casa (68%), aposentados (67%) e autônomos (52%). Dos entrevistados, 16% recebem ou alguém de sua casa recebe Bolsa Família. O percentual é maior entre aqueles com ensino fundamental (22%), com renda familiar até dois salários mínimos (26%), entre moradores do Nordeste (26%) e entre pretos e pardos (23% e 19%).