SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – O médico Elsimar Coutinho, morto em 17 de agosto, aos 90 anos, vítima da Covid-19, costumava contar uma história dos tempos de estudante da Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia. Nos anos 1950, o argentino Bernardo Houssay -vencedor do prêmio Nobel de Medicina- visitou a faculdade e ficou impressionado com a vista da janela para a Baía de Todos dos Santos. “Se eu tivesse nascido aqui, jamais teria recebido o prêmio Nobel”, disse Houssay, explicando que morar numa cidade fria e feia era melhor para dedicar-se aos estudos. O jovem Elsimar questionou o argentino sobre o que deveria fazer quem não pudesse sair dali. “Tem que fechar as janelas”, sugeriu Houssay, dizendo que dessa forma as portas da carreira se abririam. No Brasil e no exterior, Elsimar Coutinho fechou sempre as janelas para trabalhar. Fez pós-graduação na Sorbonne, na França, graças a uma bolsa que recebeu com a ajuda de Anísio Teixeira, então diretor da Capes e estudou no Instituto Rockfeller, em Nova York. Em 1967, Elsimar Coutinho ganhou destaque quando desenvolveu o primeiro contraceptivo injetável de longa duração. Referência em planejamento familiar e na área hormonal, teve trabalhos publicados em importantes revistas científicas. No Brasil, ganhou notoriedade com aparições em diversos programas de entrevistas na televisão, quase sempre falando sobre a supressão da menstruação, tema que abordou no livro “Menstruação, a sangria inútil”. “Minha maior contribuição à humanidade foi ter me dado conta de que a menstruação era desnecessária, era um fenômeno descartável”, declarou em seu site oficial. Ao todo, publicou mais de dez livros, o último deles lançado no ano passado, a autobiografia “Janelas fechadas, portas abertas”. Em 1984, Elsimar Coutinho fundou o CEPARH (Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana). Em 1993, fundou a Elmeco, empresa especializada em implantes hormonais. Atendia pacientes em seus consultórios em Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Também era membro de mais de 20 entidades de pesquisas médicas no Brasil e no exterior, além de conselheiro da Organização Mundial de Saúde. Em 20 de julho, Elsimar Coutinho foi internado no Hospital Aliança, em Salvador, diagnosticado com a Covid-19. Nove dias depois, foi transferido para o Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, onde foi acompanhado pelo médico Roberto Kalil. Pelas redes sociais, o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o governador da Bahia, Rui Costa, lamentaram o falecimento do médico. “A Bahia e o Brasil perdem um patrimônio, uma inteligência rara, com essa triste partida do professor Elsimar Coutinho, cuja contribuição para a medicina e para a ciência é reconhecida em todo o planeta”, postou o prefeito. “Elsimar Coutinho foi antes de tudo um homem inquieto, dedicado ao seu trabalho como médico e pesquisador, levando o nome da Bahia para todo o mundo”, concluiu o governador, que decretou luto oficial de um dia pela morte do médico. Elsimar Coutinho dizia que seu lema era uma frase que estava escrita em latim na entrada da velha Faculdade de Medicina: “Em primeiro lugar, não faça o mal”. Ele deixa a esposa Tereza, cinco filhos, dez netos e quatro bisnetos.