Governo da Bolívia pede a Ministério Público para investigar Evo por relacionamento com adolescente

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O Ministério da Justiça da Bolívia pediu nesta quinta (20) ao Ministério Público local que investigue se o ex-presidente Evo Morales cometeu crime por se relacionar sexualmente com uma menor de idade. Segundo a denúncia, ele estaria mantendo uma relação amorosa há cinco anos com uma mulher que, quando conheceu, tinha 16 anos. Em declaração registrada em documento da Força Especial de Combate ao Crime (FELCC) e divulgada pelo jornal boliviano El Deber nesta quinta, a jovem confirma o relacionamento com o líder indígena, mas diz que Evo se tornou seu namorado em 24 de maio deste ano, quando já era adulta. Antes, afirma ela, era uma relação de amizade, mas com “um tratamento diferente”. Segundo N., inicial do nome pelo qual ela vem sendo identificada nos veículos bolivianos, Evo a conheceu em 2015, por meio dos pais dela, em um Carnaval celebrado no Trópico de Cochabamba. Ela conta ainda que começaram a conversar de maneira mais constante quando tinha 17 anos. Se for comprovado que a mulher e o ex-presidente tiveram relações sexuais quando ela era menor de idade, Evo pode ser acusado de estupro. Segundo a lei boliviana, relações sexuais não são permitidas até que as pessoas envolvidas completem 18 anos. Caso um adulto tenha mantido uma relação sexual com um menor de idade, ainda que com consentimento pleno, o ato pode configurar crime com pena de 3 a 6 anos de prisão. O pedido de investigação foi anunciado pelo vice-ministro Guido Melgar. “Não queremos ser imprudentes de jogar isto para o público sem ter as provas necessárias que demonstrem que o ex-presidente Morales manteve um relacionamento com uma menor de idade e, inclusive, teve um filho”, declarou ele à rádio Fides. Ao receber a denúncia, o Ministério Público é obrigado a investigar o caso. Se o relatado não se confirmar, o órgão pode descartar a apuração. De acordo com o El Deber, o nome de N. surgiu pela primeira vez durante investigações do “caso áudio”, que apura uma gravação telefônica em que o ex-presidente teria convocado apoiadores na Bolívia a bloquear ruas e estradas durante os atos que ocorreram depois de sua saída do país. Os áudios revelariam conversas de Evo com o ativista e dirigente cocaleiro Faustino Yucra. Ao cruzar informações de números, o Ministério Público identificou o número da mulher. Ao ter conhecimento da denúncia, o Senado boliviano também pediu ao Ministério Público que investigue o caso, cujas evidências vêm sendo colhidas pela FELCC. Parte da documentação com a qual a polícia trabalha foi obtida e divulgada pelo portal espanhol OKdiario. São fotos e passagens de avião usadas por N. para ir à Cidade do México e depois para Buenos Aires, na Argentina, onde Evo vive na condição de refugiado após renunciar à Presidência e deixar a Bolívia. Contactado pelo veículo espanhol, o ex-presidente afirmou que não tem nada a dizer e que “sempre inventam muitas coisas sobre mim”. O MAS (Movimento ao Socialismo), partido do líder indígena, também não se manifestou sobre o episódio. Além de fotos e de passagens de avião, o relatório policial reúne mensagens enviadas por aplicativo, que mostram N. se referindo a Evo como “amor” e “Evito”. Ele, por sua vez, sempre respondia com chamadas telefônicas, sem deixar nada escrito. A agenda telefônica da mulher inclui contatos de secretários e de pessoas do entorno do ex-presidente. Eram eles quem transmitiam a ela informações logísticas sobre encontros e cópias de passagens de avião para que ela o acompanhasse. Em 2016, também foi atribuído a Evo, que é solteiro e tem dois filhos, um relacionamento com Gabriela Zapata, ex-gerente da empresa chinesa CAMC, à qual o Estado boliviano concedeu contratos milionários. O então presidente denunciou que a divulgação desse suposto relacionamento teria causado sua derrota no referendo que lhe negou a possibilidade de concorrer a uma nova reeleição. No entanto, em 2017 a corte constitucional do país o autorizou a se candidatar novamente. O governo de direita da presidente interina Jeanine Añez, que substituiu Evo após a renúncia, fez diversas acusações contra o ex-chefe de Estado, entre elas as de insurreição e terrorismo devido à violência social ocorrida entre outubro e novembro de 2019, um processo que tramita na Procuradoria local.

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