Após golpe, junta anuncia que vai indicar um presidente ‘civil ou militar’ no Mali

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A junta militar que comanda o Mali depois do golpe que derrubou o governo civil há dois dias anunciou nesta quinta-feira (20) que pretende indicar um presidente de transição para assumir temporariamente o comando do país. O grupo não informou, porém, quando irá fazer isso e nem revelou os nomes de pessoas cotadas para o posto. Enquanto um novo presidente não for indicado, o poder deve seguir nas mãos dos militares responsáveis pelo golpe contra o presidente Ibrahim Keita. Soldados que participaram do golpe contra o governo civil aguardam em frente ao Ministério da Defesa enquanto integrantes da junta militar e representantes da oposição se reúnem dentro do prédio Annie Risemberg/AFP Soldados que participaram do golpe contra o governo civil aguardam em frente ao Ministério da “Vamos estabelecer um conselho de transição com um presidente de transição que será um militar ou um civil. Estamos em contato com a sociedade civil, os partidos de oposição, a maioria, todo o mundo, para tentar instaurar a transição”, afirmou o coronel Ismael Wague, porta-voz da junta, em uma entrevista à televisão France24. O Mali está mergulhado no caos desde terça (18), quando um grupo de militares amotinados – autoproclamado Comitê Nacional para a Salvação do Povo– assumiu o poder após prender a cúpula do governo civil. Além de Keita, também foram detidos o primeiro-ministro, Boubou Cissé, ministros de Estado e generais. Em meio a críticas da comunidade internacional, Wague já tinha afirmado na quarta (19) que os militares pretendiam organizar uma eleição no país, mas sem estabelecer uma data. Já o também coronel Assimi Goita, identificado como líder do golpe e comandante da junta militar, ainda não se pronunciou sobre uma possível transição. Dada a situação no país, diversas nações vizinhas exigiram nesta quinta a reintegração de Keita como presidente. A decisão foi tomada durante uma reunião extraordinária da Cedeao (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), organização que reúne 15 países da região. “Decidimos enviar imediatamente uma delegação de alto nível para garantir o retorno imediato da ordem constitucional”, declarou o presidente do Níger, Mahamadou Issoufou, que atualmente lidera a Cedeao. O bloco vai liderar discussões e “fará os líderes da junta militar entenderem que os tempos de tomada do poder por meio da força acabaram em nossa subregião”, continuou Issoufou, que pediu sanções “para todos os militares golpistas e seus parceiros e colaboradores”. “O Mali está em uma situação crítica, com riscos graves de que um colapso do Estado e das instituições provoque retrocessos no combate ao terrorismo e ao crime organizado, com consequências para o conjunto de nossa comunidade. Isso significa que este país precisa mais do que nunca de nossa solidariedade”, acrescentou ele. Na quarta, a Cedeao e a União Africana (que reúne 55 países do continente) já tinham anunciado a suspensão do Mali dos blocos até que a ordem constitucional seja restabelecida. Responsável por liderar os protestos que ocorriam contra o governo de Keita, a frente de oposição M5-RFP anunciou apoio aos militares e descartou descartou as exigências do Cedeao. O grupo também convocou uma manifestação para esta sexta (21) na capital, Bamaco, para comemorar a derrubada do governo. Países da região e potências mundiais temem que a instabilidade no Mali prejudique a luta contra grupos extremistas islâmicos que protagonizam conflitos na região oeste do Sahel –faixa de clima semi-árido abaixo do deserto do Saara e acima da floresta tropical africana. Uma intervenção militar internacional foi lançada em janeiro de 2013, por iniciativa da França, para conter grupos radicais islâmicos que dominam o território desde 2012 –exatamente quando o país também passou por um golpe militar. Os franceses têm mais de 5.000 militares nessa região como parte de esforços internacionais bilionários, que ainda não conseguiram acabar com o conflito na região. A Minusma, forças de manutenção da paz da ONU, já enviou mais de 13 mil militares para a missão no país, contabilizando 209 mortos. Esse é um dos motivos pelo qual os líderes do país eram pressionados a renunciar. Os manifestantes reclamavam da corrupção no governo, da crise econômica no país e da ineficiência da coalizão que tenta combater os extremistas islâmicos há oito anos. Desde junho, grandes protestos tomaram as ruas de Bamaco. Os atos se mantinham pacíficos até que a polícia passou a reprimir os manifestantes, deixando ao menos 14 mortos em um fim de semana. A partir de então, o movimento passou a pedir a renúncia do presidente. A Cedeao tentou apaziguar a situação no Mali em três oportunidades. Na última, após uma conferência extraordinária com todos os Estados-membros, o bloco fez uma série de recomendações para pacificar a oposição e os manifestantes. Entre elas, a formação de um governo de união nacional que incluísse a oposição e a renúncia de 31 deputados eleitos após uma controversa decisão do Tribunal Constitucional do país que favoreceu o governo de Keita, além da recomposição da próprio tribunal, dissolvido em resposta aos atos. O governo tentou colocar as recomendações em prática, mas a oposição não cedeu e seguiu pedindo a queda do presidente e de seu governo. Keita foi eleito presidente em 2013 e reeleito em 2018.

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