BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A ex-primeira-dama, Hillary Clinton, usou o seu discurso na terceira noite da convenção democrata para tentar afastar o trauma da derrotada por Donald Trump na corrida pela Presidência em 2016. Naquele ano, a alta abstenção nas urnas prejudicou a votação de Hillary entre jovens e minorias. A ex-secretária de Estado reforçou o pedido para que as pessoas não deixem de votar em novembro. “Durante quatro anos, as pessoas me disseram: ‘Eu não havia percebido como ele era perigoso’, ‘Eu gostaria de poder voltar atrás’, ou pior, ‘Eu deveria ter votado’. Essa não pode ser outra eleição de eu deveria ou poderia”, disse Hillary, que aproveitou para lembrar aos que votarão pelo correio para já pedirem suas cédulas de votação. “Se você vota por correio, peça sua cédula agora e envie-a o quanto antes. Se você vota pessoalmente, vá cedo. Leve um amigo e use máscaras”, alertou Hillary. “Acima de tudo, não importa como, vote. Vote como se suas vidas dependessem disso, porque dependem.” Trump alega que o voto pelo correio levará a fraudes na eleição, apesar de o método ser utilizado por membros das Forças Armadas em postos no exterior há anos, sem problemas. Cerca de 25% dos votos na eleição de 2016 foram a distância, e o próprio Trump votou assim. A candidata à Presidência derrotada pelo republicano afirmou que desejava que seu então adversário tivesse sido um presidente melhor, mas que “infelizmente ele é quem ele é”. “Os EUA precisam de um presidente que mostre na Casa Branca a mesma compaixão, determinação e liderança que vemos em nossas comunidades”, disse ela, em uma referência à atuação de Trump no combate ao novo coronavírus. “Precisamos de líderes à altura deste momento de sacrifício”. Os EUA são o país com o maior número de casos e mortes no mundo, com mais de 5,5 milhões de contaminações e 172.970 óbitos, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins. “Se Trump for reeleito, as coisas vão ficar piores”, disse ela. A ex-secretária de Estado também aproveitou o momento de mobilização social que tomou o país após a morte de George Floyd para fazer um aceno a dois grupos que serão determinantes para a possível eleição de Joe Biden: mulheres e negros. “Cem anos atrás, a 19ª emenda [que garantiu o voto feminino] era ratificada”, disse Hillary, lembrando que o feito foi conquistado com “sufragistas marchando, fazendo piquetes e indo para a cadeia”. Após a menção à luta pelos direitos civis femininos, a ex-primeira-dama também se dirigiu aos eleitores negros ao lembrar de John Lewis, ex-deputado negro e histórico ativista antirracismo que morreu no mês passado. “55 anos atrás, John Lewis marchou e sangrou em Selma porque o trabalho não havia sido terminado”, continuou Hillary. Por fim, a ex-primeira-dama afirmou que há muitos corações partidos nos Estados Unidos atualmente e também antes da pandemia, mas que Biden é a pessoa que pode consertar a situação. “A verdade é que muito já estava quebrado antes da pandemia”, disse ela. “Mas como diz o ditado, o mundo quebra todo mundo, e ao final, muitos são fortes nos lugares quebrados”, continuou. “Joe Biden sabe como curar, unir e liderar, porque ele já fez tudo isso por sua família e por seu país”, concluiu. A trajetória pessoal de Biden é constantemente citada na campanha. Semanas após ter sido eleito senador por Delaware pela primeira vez, em 1972, o democrata perdeu sua primeira esposa, Neilia, e uma filha, Naomi, de apenas um ano de idade, em um acidente de carro. Desde sua abertura, na segunda-feira (17), a convenção que oficializou Joe Biden como candidato democrata à Casa Branca e Kamala Harris como vice tenta mostrar que o arco de apoio em torno da chapa moderada é bastante amplo, abarcando desde os mais progressistas, que foram às ruas contra o racismo e a violência policial, até os republicanos cansados dos arroubos do atual presidente. Trump tem sido tachado pelos democratas como incapaz de governar, enquanto Biden seria a pessoa ideal para liderar o país e tirá-lo da crise.