SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A greve geral convocada pela oposição de Belarus está ganhando força. Os manifestantes pedem a saída do presidente Alexsandr Lukachenko, acusado de fraudar eleição para se manter no poder. A onda de protestos já soma dez dias. Trabalhadores da mineração paralisaram a produção de potássio para a fabricante Belaruskali, uma das maiores do mundo do setor, segundo a agência russa Tass. A indústria de tratores MZKT, onde o presidente foi vaiado na segunda (17), também parou. Na TV estatal BT, cerca de 100 funcionários fizeram um ato do lado de fora da emissora, que colocou no ar imagens de um estúdio vazio, com uma música ao fundo. A TV tem ignorado os protestos, o que levou vários jornalistas a pedir demissão. Lukachenko está no cargo há 26 anos e se declarou vencedor das eleições realizadas no dia 9. No entanto, há fortes suspeitas de fraude. Após a eleição, quatro noites de protestos foram reprimidas à força pela polícia, deixando pelo menos dois mortos, dezenas de feridos e mais de 6.700 presos. Os detidos relataram espancamentos e torturas. No domingo (16), houve um protesto com 100 mil pessoas nas ruas, o maior já feito no país. Em seguida, foi convocada greve geral. Uma das empresas, a Belavia, enviou e-mail a seus funcionários e disse que dará apoio a eles se forem a manifestações, e que fornecerá ajuda se forem machucados. A empresa disse que quer mudanças no país, mas pediu que os empregados sigam trabalhando para não piorar a situação econômica. Campanhas arrecadaram o equivalente a US$ 700 mil para ajudar trabalhadores punidos por aderir à paralisação. O jornal Komsomolskaia Pravda (Liga da Juventude), que cobria temas como celebridades e esportes, passou a trazer notícias dos protestos. A rotativa do jornal quebrou, eles pediram ajuda e conseguiram uma nova máquina para imprimir em cerca de uma hora. Na noite de segunda (17) e nas primeiras horas dos atos de terça (18), não foram registradas cenas de repressão policial aos manifestantes. Nesta terça, houve um protesto em frente ao centro de detenção nº1 de Minsk. Quase 200 pessoas desejaram feliz aniversário a Sergei Tikhanovski, 42. Conhecido blogueiro, ele disputaria a eleição contra o presidente mas foi detido em maio, pela acusação de perturbar a ordem pública. Com buquês de flores e balões, os manifestantes pediram sua libertação. No entanto, alguns grupos pedem que os ativistas não se aproximem muito do local, por temer que a tortura aos presos aumente caso isso aconteça. Mulher de Tikhanovski, a professora de inglês Svetlana Tikhanovskaia, 37, assumiu seu lugar na campanha e se tornou a principal líder da oposição. Ela levou multidões aos comícios eleitorais. Depois de pedir a Lukachenko que cedesse o poder, declarou na segunda-feira (17) que estava pronta para assumir suas responsabilidades e governar o país. Refugiada na vizinha Lituânia, ela busca obter apoio internacional para criar um governo de transição e realizar uma nova votação. “Todas essas injustiças e arbitrariedades nos mostram como funciona esse sistema podre, no qual uma pessoa controla tudo”, disse Tikhanovskaia, em um vídeo publicado na internet. “Uma pessoa controla o país por meio do medo há 26 anos. Uma pessoa roubou a escolha dos bielorrussos”. Um conselho de coordenação para a transição de poder foi formado pela oposição, cuja primeira reunião será nesta terça, segundo a opositora Maria Kolesnikova. Deve incluir Svetlana Aleksievitch, Prêmio Nobel de Literatura. Lukachenko busca resistir e mostrar força. Nesta terça, condecorou policiais que atuaram na repressão aos protestos, no que considerou um “serviço impecável”. Também determinou a gestores das fábricas estatais que se esforcem para disciplinar os trabalhadores, de modo a manterem a produção. Também nesta terça, o presidente russo Vladimir Putin fez ligações para a chanceler alemã Angela Merkel e para o presidente Emmanuel Macron. Nas conversas, disse a eles que pressões ou tentativas de interferir na situação em Belarus serão consideradas inaceitáveis pela Rússia. Merkel disse a Putin esperar que o governo de Belarus pare a violência, solte presos políticos e inicie conversas com a oposição. A União Europeia estuda aplicar sanções contra o governo de Lukachenko, e terá debates sobre o assunto na quarta (19). Charles Michel, presidente do Conselho Europeu (um dos órgãos de comando da UE), disse que conversou com Putin sobre a crise em Belarus. “Só o diálogo pacífico e verdadeiramente inclusivo pode resolver essa crise”, afirmou em uma rede social.