SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma semana após fazer ameaças às movimentações políticas de Taiwan, a China anunciou ter desenvolvido um novo tipo arma que reforça uma de suas fragilidades no embate com a ilha que considera uma província rebelde. O canal estatal CCTV apresentou em uma reportagem o Tianlei 500 (Trovão do Céu), um míssil que dispersa até 500 kg de submunições em uma área pouco inferior a um campo de futebol. Mais importante, com um desenho com asas estabilizadoras, o Tianlei pode ser disparado a mais de 60 km de seus alvos, evitando a exposição do avião que o transporta às defesa antiaéreas do inimigo. Essa é uma preocupação dos chineses, que obviamente têm capacidade balística para obliterar Taiwan, mas não desejariam isso: o seu objetivo estratégico é reintegrar a ilha ao controle continental. Hoje, a ilha é uma democracia. Assim, um ataque no caso de invasão precisaria ser mais cirúrgico, e analistas veem deficiências no arsenal chinês desse tipo de arma. Com até 240 bombas de precisão individuais, o Tianlei poderia atacar campos de pouso e baterias antiaéreas, sendo bem mais difícil de interceptar do que um grande caça J-11, uma cópia do russo Su-27 que provavelmente poderá lançar o novo míssil. A barulheira visa intimidar Taiwan, que na semana passada recebeu a primeira visita de um secretário americano, no caso o titular da Saúde, Alex Azar, desde que Washington reconheceu a China comunista em 1979. De lá para cá, os americanos adotaram uma política ambígua no estreito de Taiwan. De um lado, ajudaram os capitalistas insulares a se armarem com equipamento moderno, como suas baterias antiaéreas e caças. Do outro, estabeleceram uma parceria comercial e grande interdependência com a China. Tudo isso está sob tensão redobrada com a Guerra Fria 2.0 de Donald Trump, iniciada no campo tarifário em 2017 e que se espalhou para toda sorte de frente: de coronavírus ao 5G, passando por Hong Kong e o domínio do mar do Sul da China. Aquela importante faixa entre os oceanos Pacífico e Índico é disputada diretamente pela China e seus vizinhos, a maioria com apoio americano. Analistas creem mais no risco de um choque acidental por lá do que numa guerra de fato envolvendo Taiwan, neste momento, embora na ilha a paranoia de invasão seja crescente. Os EUA, apesar do apoio, mediram os passos ao convidar 25 países para seu grande exercício naval anual no Pacífico, o Rimpac, que começou na segunda (17). Metade topou, devido à pandemia, mas a grande ausência nos convites foi justamente Taiwan -o ato seria visto como uma provocação direta a Pequim que mesmo Trump, desesperado por uma agenda que melhore suas chances eleitorais em novembro, não quis fazer. Nas semanas anteriores, contudo, os EUA aumentaram a frequência de voos de aeronaves espiãs perto de território chinês. E na semana passada deslocaram bombardeiros com capacidade nuclear furtivos B-2 para Diego Garcia, uma base ao sul da Índia, aliado que se envolveu em choque militar com os chineses há dois meses no Himalaia. Na semana passada, durante a visita de Azar, os chineses fizeram diversos exercícios aeronavais no estreito de Taiwan e dois caças seus penetraram o espaço aéreo da ilha, sendo pela primeira vez na história marcados por radares de baterias antiaéreas ativas. Ao mesmo tempo, Pequim fez simulações de invasão de ilhotas no mar do Sul da China, o que foi visto como um recado a Taiwan -a república tem um pequeno arquipélago de atóis, as ilhas Prata, no norte da região, e reforçou a guarnição de fuzileiros que mantém lá.