SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na última semana, o município paulista de São José do Rio Preto (a 437 km de São Paulo) anunciou a entrega de um trecho do anel Viário J. Hawilla, que terá 37 quilômetros de extensão e está sendo construído na cidade ao custo de R$ 52 milhões. A homenagem ao jornalista e empresário no batismo da obra foi justificada pelo prefeito Edinho Araújo (MDB) em projeto de lei enviado à Câmara Municipal por suas contribuições à cidade, mas não menciona outros aspectos do personagem, morto em maio de 2018 aos 74 anos, em decorrência de problemas pulmonares. J. Hawilla, como pediu para ser chamado desde o seu começo como radialista no interior paulista, ganhou fama mundialmente a partir de maio de 2015, com a deflagração da operação Fifagate pelo FBI no hotel Baur au Lac, em Zurique, na Suíça. Naquele dia 27 de maio, empresários e dirigentes ligados ao futebol foram detidos -entre eles o ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) José Maria Marin. Tido como o principal delator do escândalo de corrupção na compra de direitos de transmissão de competições esportivas nas Américas, Hawilla apenas se livrou da prisão em Nova York ao fazer acordo de colaboração em 2013. Ele reconheceu crimes e se comprometeu a pagar US$ 151,7 milhões, na época, para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O valor, segundo o FBI, era o equivalente ao que a sua empresa, a Traffic, teria alimentado em propinas a dirigentes para garantir com exclusividade contratos de televisionamento e patrocínios em torneios como Copa América, Libertadores e Copa Ouro, entre outros eventos. Ao longo das três últimas décadas, ele também diversificou investimentos. Comprou fazendas em São Paulo e Mato Grosso e virou dono de empreendimentos de luxo, como condomínios empresariais e residenciais. Em São José do Rio Preto, onde nasceu, Hawilla também foi radialista, apresentador do Globo Esporte, dono de uma rede de jornais e da TV Tem, rede de afiliadas da Globo com sedes em Bauru, Itapetininga, Sorocaba e Rio Preto e presente em mais de 300 cidades pelo interior paulista. Não houve muitas manifestações públicas contrárias à homenagem até o momento, mas uma delas foi a do vereador Marco Rillo (PSOL). “Aqui ser criminoso tem seus méritos, é calamitoso isso. Tanta gente da cidade para ser homenageada, e [foi escolhido] o cara que admitiu seus crimes. Ninguém quis saber como ele enriqueceu tanto assim”, lamentou. Procurada pela reportagem, a prefeitura de São José do Rio Preto disse por meio de sua assessoria de imprensa que o prefeito Araújo não entrou no mérito dos crimes admitidos por Hawilla ao decidir pelo batismo da obra. “A homenagem se deu pois o homenageado é um rio-pretense que gerou e ainda gera muitos empregos na cidade, com grandes investimentos em Rio Preto, uma afiliada da Rede Globo (TV TEM) e diversos empreendimentos imobiliários”, afirmou em nota. Outro personagem ligado ao futebol (e aos seus escândalos) que ganhou uma homenagem desse tipo, no caso dele em um palco esportivo, foi o ex-presidente da Fifa João Havelange, que inicialmente batizou o estádio conhecido como Engenhão, no Rio de Janeiro. Em 2017, a pedido do Botafogo, que assumiu o local como sua casa, foi oficializada a mudança de nome de Estádio Olímpico João Havelange para Estádio Nilton Santos.