BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Uma manifestação antiquarentena e contra o governo do presidente argentino, Alberto Fernández, tomou a região do Obelisco, na avenida 9 de Julho, principal artéria de Buenos Aires, na tarde desta segunda (17). “Por que deixam jornalistas trabalharem, e nós, não? Estou sem emprego. Isso é uma gripe, e esse governo é uma ditadura”, gritava um senhor, que dizia trabalhar numa academia de ginástica, fechada desde o início da pandemia de coronavírus. No ato, pessoas caminhavam com bandeiras nacionais, carros buzinavam e muitos cidadãos protestavam sem usar máscaras. O governo alertou para o perigo de contaminação num momento em que o país vive uma alta na curva de infecções. Manifestações também ocorreram em Tucumán, Santa Fé e Rosario. Em quarentena desde 20 de março, a Argentina flexibilizou as medidas de restrição nas últimas semanas, reabrindo diversos comércios de produtos não essenciais e indústrias. Há setores da economia, na região metropolitana de Buenos Aires, no entanto, como shoppings, academias, escolas, bares, restaurantes e hotéis, que permanecem sem autorização para reabrir. “Apresentamos protocolos para voltar a trabalhar, mas não nos deram bola, o governo quer nos ver pobres”, disse o garçom Pablo García, 47. Questionado se tinha medo de se contaminar em meio à aglomeração, afirmou que “morre mais gente de gripe do que de Covid-19 todos os anos”. De acordo com o Ministério da Saúde argentino, durante os 12 meses de 2018 morreram 31.916 pessoas por pneumonia e influenza. Até o momento, de meados de março até agora, foram registrados 294.569 casos e 5.750 mortes por Covid-19. Segundo os principais infectologistas do país, como Pedro Cahn, no entanto, se não fosse pela quarentena adotada com rapidez, a Argentina poderia ter cifra de mortos cinco vezes maior do que a já contabilizada. Apesar de convocada de forma anônima, pelas redes sociais, os protestos receberam apoio do PRO (Proposta Republicana), partido do ex-presidente Mauricio Macri. A presidente da legenda, Patricia Bullrich, ex-ministra da Segurança, esteve no ato no Obelisco e, de dentro de um carro, disse que estava ali porque “a República está em risco”. “Quando a pátria está em perigo, tudo está permitido.” Ao apoiar a manifestação, o PRO, no Twitter, usou uma frase do general San Martín, herói da independência do país, cujo feriado é comemorado nesta segunda-feira. “Faz mais ruído apenas um homem gritando do que cem mil calando.” Ao lado do Obelisco, havia um boneco inflável com a imagem da vice-presidente Cristina Kirchner vestida de presidiária. Na frente do apartamento da ex-presidente, no bairro da Recoleta, houve buzinaços, e cartazes foram colocados na porta do edifício. Ouvia-se gritos de “Cristina, traidora da pátria”. Os manifestantes protestaram contra a reforma no Judiciário proposta pelo governo e interpretada pela oposição como uma forma de livrar a vice das nove acusações de corrupção pelas quais é processada. Um dos cartazes facilmente encontrados na manifestação exigia o retorno das aulas. “Não queremos que nossos filhos sejam reféns.” Um taxista, por sua vez, ecoava teorias da conspiração sem base na realidade. Disse que “existe uma elite satânica no mundo, e a cara visível é George Soros, mas há muitos invisíveis”, em referência ao empresário húngaro que costuma investir em projetos de viés progressista. “Isso não é esquerda nem de direita, estamos lutando contra a elite satânica. Essas máscaras são para nos matar, não para nos proteger, porque fazem com que nos afoguemos com o dióxido de carbono.”