SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um laudo pericial indica que o material genético encontrado no corpo da estudante Julia Rosenberg Pearson, 21 anos, não é compatível com o DNA coletado de um autônomo de 37 anos, único suspeito pelo crime, até o momento. A jovem foi achada morta, no dia 6 de julho, na cidade de São Sebastião (191 km de SP), no litoral norte de São Paulo. Depois de assassinada, a estudante de veterinária foi enterrada em uma cova rasa próxima a uma trilha entre as praias de Paúba e Maresias. Com base no laudo, concluído em 27 de julho, o delegado Alexandre Bertolini, do 2º DP de São Sebastião, manifestou “não haver mais interesse na custódia cautelar [prisão]” do autônomo. “O confronto do material genético do suspeito com os materiais colhidos no corpo da vítima e local do crime indica que eles não são compatíveis entre si”, diz trecho de um despacho emitido pelo policial em 30 de julho, que é finalizado solicitando “a revogação da prisão temporária” dele. No mesmo documento, Bertolini acrescenta que o suspeito é investigado por outros dois crimes, um dos quais o mantém ainda detido. Antes dos resultados dos exames de DNA, a polícia pediu a prisão do autônomo, que foi detido em 9 de julho, por causa de uma suposta importunação sexual, sobre a qual é investigado em Ilhabela (198 km de SP). Na ocasião, o autônomo teria confessado, informalmente, aos policiais militares, ter matado Julia. A irmã do suspeito, uma professora de 36 anos, afirmou à reportagem que seu irmão tem problemas psiquiátricos, os quais a família tenta tratar há mais de um ano, quando eles começaram a se manifestar de forma mais contumaz. “A família está sofrendo muito por causa da prisão de meu irmão. Minha mãe sofre e isso [suspeita do homicídio da Julia] só piora a situação”. Sobre a “confissão” feita pelo irmão à PM, a professora disse que ele chegou a afirmar ter matado uma tia e uma prima, que morreram por outros motivos entre o ano passado e este ano. “Ele disse que tinha matado as duas. Mas uma delas morreu por causa de um câncer”, explicou a professora. Ela acrescentou que teme pela segurança do irmão na cadeia e que ele deveria aguardar as investigações de outros dois crimes dos quais é suspeito em um hospital de custódia, como é indicado por um documento assinado pela juíza Glaucia Fernandes Paiva Saenger, do Tribunal de Justiça, comarca de São Sebastião, em 14 de julho. Porém, o homem estava preso, até a publicação desta reportagem, na penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos (Grande SP). Até o último dia 12, estavam presos, no regime fechado da unidade da Grande São Paulo, 1708 homens. O local, porém, conta com 881 vagas, segundo a SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), gestão João Doria (PSDB). INVASÃO DE RESIDÊNCIA A irmã do autônomo afirmou que, após redes de televisão divulgarem o nome dele como se fosse o assassino de Julia, a casa do suspeito, em Guarulhos, foi invadida, furtada e depredada. De acordo com boletim de ocorrência registrado no 4º DP da cidade da Grande SP, em 18 de julho, suspeitos ainda não identificados entraram na casa do autônomo, que já estava preso, por volta das 11h. Os criminosos reviraram o imóvel e também arrombaram as portas do carro dele na garagem, do qual acabaram levando a bateria, segundo o boletim de ocorrência. Ao todo, foram furtados da casa um aquecedor, uma televisão, a bateria do carro, um botijão de gás e até um chuveiro. A família teme que o imóvel seja alvo de mais ações violentas. Defesa O advogado Daniel Pangardi, que defende o autônomo em parceria com Lucas Nunes e Yago Nunes, afirmou que, com relação ao latrocínio de Julia, “está ciente da inocência” do cliente. “Ele não estava no local dos fatos e a defesa vai fazer o possível para trazer elementos que comprovem isso, fora o exame de DNA, que constatou que não há material genético”, afirmou o defensor ao Agora. Pangardi acrescentou “acreditar no potencial da polícia” para encontrar o verdadeiro assassino da estudante de veterinária. Sobre o caso de importunação sexual, o advogado afirmou que “tudo será demonstrado nos autos [processo]”, acrescentando não haver elementos indicando que seu cliente seja o autor do crime. Já sobre o suposto problema na carceragem de Caraguatatuba, Pangardi afirmou que o caso “é muito prematuro” para que possa se manifestar sobre ele neste momento. Resposta A SSP (Secretaria da Segurança Pública), gestão João Doria (PSDB), afirmou que a polícia solicitou a revogação da prisão temporária do autônomo, após o exame de DNA comprovar que o material genético encontrado no corpo da estudante morta é incompatível com o do suspeito. “O homem permanece detido em função de outros delitos e está à disposição da Justiça.” O 2º DP de São Sebastião continua investigando o caso, acrescentou a pasta, sem informar se algum suspeito pelo assassinato já foi identificado pela polícia. “A unidade aguarda os resultados de laudos e continua realizando diligências para esclarecer o crime.” A SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), também sob a gestão de João Doria, afirmou que o autônomo permanece preso na penitenciária I “José Parada Neto” de Guarulhos, desde 29 de julho. “Até o momento, não foi recebida nenhuma decisão judicial determinando sua transferência para hospital de custódia e tratamento psiquiátrico”, afirmou. Já o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), afirmou que, pelo fato de o processo correr em segredo de Justiça, não teve acesso ao andamento do caso e, por isso, não se manifestou sobre ele.