SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Levantamento do Instituto Corrida Amiga aponta que ao menos 71 calçadas de hospitais e UBS (Unidades Básicas de Saúde) da capital paulista têm problemas, como rachaduras, buracos, elevações ou falta de espaço para caminhar. Em sua totalidade, a pesquisa, feita de forma colaborativa, entre 20 de junho e 31 de julho, mapeou 126 unidades de saúde e de ensino com problemas nas calçadas no município, 239 na região metropolitana e 352 em todo o estado de São Paulo. No hospital da Vila Alpina (zona norte), por exemplo, os passeios são estreitos em vários pontos, além de haver árvores e postes, que dificultam a passagem de pedestres e cadeirantes. É preciso também ficar atendo com desníveis e rachaduras. Outro local indicado fica no entorno da UBS do Cambuci (centro da capital paulista), onde a corretora de imóveis Luciene Skolimoski, 54 anos, faz caminhadas diárias há mais de um ano. Ela afirmou que a calçada da unidade de saúde “não está perfeita” por causa de algumas rachaduras e elevações, que podem ocasionar eventuais quedas ou acidentes. “Mas tem piores. Há algumas, perto da UBSs, bem ruins, com árvores que ‘estouram’ a calçada [com as raízes]”, disse. Márcio de Morais Júnior, coordenador de voluntariado da Corrida Amiga, explicou que esta é a sétima pesquisa feita pela ONG, sendo a primeira em formato de questionário. As anteriores se desenvolveram a partir de fotos encaminhadas por colaboradores, por meio de um aplicativo de celular. “A organização trabalha, de forma geral, em prol da mobilidade ativa, principalmente a pé. Realizamos várias ações para engajar a população com relação à melhoria das condições para os pedestres”, explicou Morais Júnior. O levantamento também indicou 55 calçadas irregulares em escolas na capital, 103 na região metropolitana e 165 em todo o estado de São Paulo. Segundo a consulta deste ano, o problema mais apontado foi o de calçadas irregulares, com buracos, estreitas e obstruídas (80%), seguido de falta de segurança pública (31%), falta de segurança viária (27%) e falta de acessibilidade (23%). Participaram do levantamento 1032 pessoas, de 149 cidades e 25 estados brasileiros. Falta de bom senso A falta de bom senso também é um problema, em alguns casos. A reportagem flagrou, por volta das 11h desta quinta-feira (13), sete carros estacionados sobre uma das calçadas do pronto atendimento Glória Rodrigues dos Santos Bonfim, na rua Fernando Frejeiro, em Cidade Tiradentes (zona leste). Pedestres se viram obrigados a caminhar pela rua neste trecho, completamente bloqueado pelos veículos. Um dos carros foi estacionado pelo mecânico Edigar Antônio, 42 anos. Ele disse ao Agora que mantém o veículo no passeio público “por algum tempo do dia”, e que não ouviu nenhum tipo de reclamação dos pedestres. “As pessoas aqui no bairro sempre andam pela rua mesmo, então [deixar o carro na calçada] não incomoda ninguém”, afirmou. Além do mecânico, o funileiro Diego Vargas, 25, mantém na mesma calçada um Ford Escort azul em péssimo estado de conservação. Ele afirmou que irá retirar o carro do passeio público ainda nesta semana. “Deixo ele na calçada, pois a rua é estreita e nela passam ambulâncias. Então, é melhor deixar o carro na calçada mesmo”, afirmou. Os outros cinco carros seriam de moradores da região, segundo apurado pelo Agora. Nenhum responsável pelos veículos foi localizado até a publicação desta reportagem. Calçadas ajudam na qualidade de vida, diz especialista Valter Caldana, professor de arquitetura e urbanismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirmou que “a sociedade despertou” para a necessidade da calçada como elemento de construção à qualidade de vida nas cidades. “As calçadas são um sistema que evita, por exemplo, acidentes, além de garantir acessibilidade, não só para pessoas portadoras de deficiência, como para qualquer cidadão”, afirmou o especialista, que também é coordenador do laboratório de políticas públicas de mobilidade da universidade. Ele acrescentou que o interesse da sociedade sobre o tema gera ações positivas, fazendo com que as pessoas se mobilizem no sentido de superar o problema, como realizando pesquisas e levantamentos, contribuindo para que o pedestre ganhe força na questão da mobilidade urbana. “O pedestre tem prioridade zero [nas políticas de mobilidade]. Porém, a sociedade está prestando mais atenção nisso e cobra [das autoridades] mudanças.” Respostas A Prefeitura de São Paulo, gestão Bruno Covas (PSDB), afirmou já ter readequado mais de 811 mil metros quadrados de calçadas na cidade, entre janeiro de 2019 e julho deste ano. Além disso, o governo estima que, até o fim deste ano, conclua a revitalização de 1,5 milhão de metros quadrados de passeios públicos no município e construa 4.000 rampas de acesso. “As obras atendem as especificações definidas pelo Decreto N° 58.611 [janeiro de 2019], que garante que a calçada deve conter faixa livre exclusiva à circulação de pedestres e não apresentar desnível, vegetação e obstáculos que possam causar interferência”, diz trecho de nota. O decreto mencionado pela prefeitura determina ainda que as calçadas devem ser adequadas e reguladas para não provocar vibrações durante o deslocamento de cadeiras de rodas, carrinhos de bebê e meios de transporte semelhantes a estes, além de prever sinalização visual e tátil – para pessoas com deficiência. As rotas foram definidas pelo programa que identificou calçadas públicas e privadas em toda a cidade. Foram selecionadas calçadas com grande fluxo de pedestres e na proximidade de comércios, escolas e hospitais, cujos reparos impactarão positivamente à população em todas as regiões da cidade. Sobre a calçada do hospital da Vila Alpina, o governo estadual, gestão João Doria (PSDB), afirmou que a unidade trabalha no projeto de revitalização do passeio público e mantém uma rotina de limpeza da calçada e de conservação de lixeiras do local. O governo estadual afirmou manter também contato com a prefeitura “para eventuais intervenções relacionadas a postes e árvores, considerando as competências dos entes envolvidos no cuidado com calçadas”, diz trecho de nota. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) afirmou que iria verificar, ainda na tarde desta quinta-feira, os carros estacionados sobre a calçada da rua Fernando Frejeiro, ao lado de uma unidade de saúde da zona leste