SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Imagine entrar para uma escolinha de futebol e, um ano mais tarde, ser escalado para a seleção brasileira. Ou receber uma indicação ao Oscar, apenas um ano depois de começar a estudar interpretação. Foi mais ou menos isto o que aconteceu com a capixaba Juliana Baioco (34), radicada no Rio de Janeiro. Esta engenheira de petróleo e professora universitária se interessou pelo mundo da cutelaria assistindo a “Desafio Sob Fogo”, a competição entre forjadores que é uma das maiores audiências do canal pago History. Interesse, aliás, é uma palavra que não corresponde à realidade: segundo a própria Juliana, ela se viciou pelo assunto. Tanto que, em fevereiro de 2019, aproveitando as férias de verão, Juliana fez um curso de uma semana de duração no Rio Grande do Sul, o estado brasileiro onde se concentra a maior parte dos nossos forjadores e cuteleiros. Depois disso, participou de alguns eventos da área por todo o Brasil, e abriu uma oficina compartilhada de cutelaria e marcenaria em um shopping no Rio. Desenvolta, ela chamou a atenção de seus novos colegas. E foi indicada por Daniel Jobim, o vencedor da segunda temporada de “Desafio Sob Fogo – América Latina”, para a seleção de elenco da terceira edição do programa. Convidada a enviar um vídeo demonstrando suas habilidades, Juliana acabou se tornando a primeira mulher a competir na versão latino-americana do reality. “Eu não me sentia preparada para um desafio tão grande”, conta ela. “Mas não tinha nada a perder, só a ganhar, nem que fosse experiência”. Juliana Baioco faz parte de uma espécie de invasão brasileira no programa – que, inclusive, passou a se chamar “Desafio Sob Fogo – Brasil e América Latina”. Nada menos que quatro dos oito participantes são brasileiros. Além da capixaba, também concorrem o brasiliense Cléber Melo (42), que largou uma carreira em gestão de tecnologia para se tornar cuteleiro profissional; o paranaense Milton Rodriguez (59), ex-caminhoneiro, hoje dono de uma loja online de facas; e o gaúcho Sandro Boeck (45), ex-advogado, que tem uma fábrica de facas e atua como juiz em feiras por todo o país. Além dos nossos quatro compatriotas, também estão no páreo um argentino, um colombiano e dois mexicanos. Um dos três juízes da competição também é brasileiro: o paulista Ricardo Vilar (45), que venceu um episódio da versão americana do reality e leciona cutelaria na universidade do estado americano do Arkansas. Ele se junta ao argentino Mariano Gugliotta, que já participava do programa, e ao americano Doug Marcaida, que os fãs conhecem da versão original. A apresentação, este ano, cabe ao ator argentino Michel Brown, da série “Hernán”. Eu visitei o set de gravação, em um estúdio nos arredores da Cidade do México. Além do calor escaldante proporcionado pelas quatro forjas ligadas ao mesmo tempo, o que chama a atenção de imediato é o clima de camaradagem entre os concorrentes. Todos se ajudam entre si, como se não disputassem um único prêmio de 10 mil dólares (cerca de R$ 55 mil). Conversei com os jurados Ricardo Vilar e Doug Marcaida. O brasileiro falou do interesse crescente por cursos do gênero, onde a matéria lecionada é 90% é ciência e 10% é arte. Já o americano disse estar impressionado com os latinos. “Nos EUA os participantes costumam ser amadores, mas também são muito técnicos. Seguem as regras direitinho. Aqui eles são profissionais e, portanto, mais sérios, mas também sabem improvisar. Mesmo sem nunca terem visto a arma que precisam fazer, ou encarando materiais que jamais usaram, eles dão um jeito. Pensam fora da caixa”. Juliana confirma que passou por muitos momentos de sufoco. “Foi tudo muito estranho. Eu nunca tinha participado da gravação de um programa de TV. Muita gente em volta, muita pausa, muito recomeço. Também tive que usar equipamentos que eu não conhecia, e trabalhar contra o relógio!”. Para complicar, as gravações ainda não haviam terminado quando a OMS decretou a pandemia, em meados de março. A produção precisou adotar normas rígidas de segurança. Felizmente, foi tudo concluído a tempo, e os concorrentes conseguiram voltar a seus países sem maiores problemas. “Desafio Sob Fogo – Brasil e América Latina” estreia nesta quinta (13) no History, às 23 horas. Logo antes, às 21h30, o canal exibe o episódio da versão americana vencido por Ricardo Vilar. Antes mesmo de aparecer no ar, Juliana Baioco já está recebendo mais encomendas em sua oficina. Ela não pode me contar quem venceu o reality, mas a suspeita de que tenha sido um brasileiro é grande. Afinal, metade dos candidatos veio do Brasil, e o país também ganhou as duas primeiras temporadas do programa, com Tom Silva (2019) e Daniel Jobim (2019). “Vencer é bom, mas nada se compara à mágica de ver uma barra de aço se transformar em uma ferramenta, pelas suas próprias mãos”, afirma ela, sorrindo. O colunista viajou à Cidade do México a convite do canal History.