BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – Três mulheres enfrentaram nos últimos meses o “último ditador da Europa”, como é chamado o líder da Belarus, Alexandr Lukachenko. Elas se uniram numa campanha independente de oposição, depois que o autocrata baniu ou prendeu candidatos rivais. Das três -Svetlana Tikhanovskaia, Veronika Tsepkalo e Maria Kalesnikava-, só a última continua em seu país natal. Tikhanovskaya, uma mãe de dois filhos que tomou a frente da candidatura após a prisão de seu marido -o blogueiro Siarhei Tikhanovski-, partiu nesta terça para a Lituânia, sob pressão do governo, segundo seus partidários. Tsepkalo -cujo marido, o ex-embaixador em Washington Valeriy Tsepkalo, teve seu registro negado como candidato e fugiu para a Rússia para escapar da prisão-, também deixou a Belarus para se reunir a ele. Kalesnikava, 38, a única das três que já estava na política por iniciativa própria, ficou: “Não vou a lugar nenhum”, afirmou em entrevista ao site russo Meduza. Na manhã desta quarta (12), ela divulgou um vídeo em que se dirige pessoalmente ao presidente e pede que ele renuncie. Embora tenha sido detida pela polícia na véspera da eleição, no último sábado (8), ela se recusa a contratar guarda-costas. Defende a opção de suas ex-parceiras de deixar o país por questões de segurança, mas afirma sentir “grande responsabilidade pelo que está acontecendo agora na Belarus”. A estratégia agora é proteger funcionários da comissão eleitoral “que arriscaram a própria vida para denunciar pressões para que falsificassem os resultados da votação” e apoiar manifestantes feridos pela repressão de Lukachenko nos últimos quatro dias, afirmou ao Meduza. Antes de ingressar na política, Kalesnikava já mostrava uma predileção por trios. Formada em Minsk como solista de flauta transversal, ela se graduou em música antiga e contemporânea em Stuttgart, na Alemanha, onde fundou com duas amigas o InterAKT, de projetos experimentais em arte. Em outro momento a três, formou o grupo de música Vis-à-vis, com a cantora Natasha López e o violoncelista Hugo Rannou. A partir de 2016, criou projetos de ensino de música clássica e gerenciou projetos no Artempfestival, até conhecer Viktor Babariko, o candidato mais popular até ser preso sob acusações de fraude, no Belgazprombank, banco do qual ele era o principal executivo e onde ela trabalhava. Tornou-se sua chefe de campanha enquanto durou a campanha. Quando as medidas contra Babariko deixaram claro que Lukachenko iria a extremos para se manter no poder, disse não ter medo da repressão oficial: “Todos nós temos nossos próprios medos -de profundidade, altura, medo de falar em público. Mas somos todos adultos e capazes de lidar com eles”. Semanas depois, decidiu se unir a Tikhanovskaia e Tsepkalo num novo trio eleitoral. Foi uma conclusão em tempo recorde, disse na ocasião: “Precisamos de 15 minutos conversando apenas nós três para tomar uma decisão … E essa foi a nossa vitória”. A partir de então, sua figura esguia de cabelos platinados curtíssimos, olhos verde escuros e batom vermelho forte passou a chamar a atenção nas fotos em cada uma das mulheres adotou um gesto simbólico. O de Tsepkalo foi o V da vitória. Tikhanovskaia aparecia de punho cerrado, a meia altura. Ficou com Kalesnikava a marca mais suave: um coração formado com as mãos. Sua motivação política porém era mais incisiva: raiva contra “o tratamento humilhante que Lukachenko dispensa a Belarus” e suas declarações machistas. “Não somos cidadãos de segunda classe. Somos iguais aos homens e podemos vencer”, respondeu quando ele disse que a sociedade bielorrussa “não estava pronta a eleger uma mulher”. “Cinquenta e cinco por cento dos eleitores na Belarus são mulheres e você nem imagina como isso as enfureceu”, disse ela ao site Meduza. Na tarde desta quarta, antes que confrontos mais violentos tomassem as ruas, milhares de bielorrussas vestidas de branco fizeram correntes de solidariedade e marchas de protesto em vários pontos de Minsk. Não houve relatos de prisão ou repressão.