MANAUS, AM (FOLHAPRESS) – Mais três corpos de ribeirinhos foram encontrados nesta última terça-feira (11), no rio Abacaxis, em Nova Olinda do Norte, no Amazonas. Essa região é a mesma onde a Polícia Militar amazonense faz operação desde o início do mês. A secretaria de Segurança do estado confirmou as mortes nesta quarta (12) e disse que os três corpos, ainda não identificados, foram levados para Manaus, onde serão periciados. Com os três casos, subiu para cinco o total de mortes violentas confirmadas pela pasta da segurança na região. Outros dois óbitos são de uma pessoa morta durante uma intervenção policial e de um indígena, cujo corpo foi localizado boiando no rio Abacaxis. Todas as mortes, segundo a secretaria, estão sendo investigadas em inquéritos abertos na Polícia Civil. Os crimes foram registrados a partir do dia 4 de agosto, quando a PM enviou 50 policiais para Nova Olinda do Norte em resposta à morte de dois militares durante um confronto em uma operação de combate a piratas e traficantes, iniciada um dia antes. As denúncias de abuso policial e relatos de ameaças e assassinatos de ribeirinhos e indígenas pelos militares durante diligências nas comunidades levaram a Justiça Federal a determinar que a Polícia Federal (PF) acompanhasse a operação na região, a fim de investigar supostos excessos da PM do Amazonas. Os ribeirinhos relataram ao Ministério Público Federal que, além de invasões de domicílio, apreensões de celulares, agressões e ameaças, os policiais militares estavam proibindo a circulação de pessoas no rio Abacaxis. Entre os abusos, os PMs teriam torturado o presidente da Associação Nova Esperança do Rio Abacaxis (Anera), Natanael Campos da Silva, na presença do comandante da PM do Amazonas, Ayrton Norte. Para os moradores, os policiais buscam “vingança” pela morte dos militares. Os policiais federais chegaram em Nova Olinda do Norte, de helicóptero, nesta terça. Segundo relatos de ribeirinhos, foram os policiais federais que encontraram os três corpos. Procurada, a PF disse, por nota, que “não divulga detalhes a respeito de operações em curso”. A área onde a ação está sendo realizada é ocupada por ribeirinhos do Projeto de Assentamento Extrativista (PAE) Abacaxis, do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), e por indígenas. Mortes A primeira morte confirmada pela secretaria de segurança foi a de Eligelson de Souza da Silva, 20, no dia 4 de agosto, um dia depois da morte de dois PMs. Na versão oficial, Silva teria trocado tiros com os policiais. Três dias depois, foi encontrado o corpo do índio mundurucu Josimar Moraes Lopes, 26, que foi reconhecido pelos próprios indígenas, mas ainda não oficialmente identificado pela secretaria de segurança. Suspeita-se que Josivan, 18, irmão de Josimar, também tenha sido morto na região e pode ser uma das vítimas localizadas nesta terça. No dia 9 (domingo) ribeirinhos do rio Abacaxis relataram ter encontrado mais três corpos. Um deles era o de Vandrelânia de Souza Araújo, 34, moradora da comunidade Monte Horebe, no PAE Abacaxis 2. Vandrelânia havia saído de casa com o marido, Anderson Monteiro, 34, e o filho, Matheus Araújo, 14. Também não há confirmação se os outros dois corpos encontrados são de Anderson e Matheus. PESCARIA ILEGAL A onda de violência na região teve início em 23 de julho. Nesse dia, o secretário-executivo do Fundo de Proteção Social (FPS) do governo do Amazonas, Saulo Moysés Rezende da Costa, tentou entrar na área do rio Abacaxis para praticar pescaria esportiva sem licença ambiental, em plena epidemia de Covid-19. Os moradores impediram a pescaria. Em meio ao impasse, Costa foi atingido no dia 24 de julho com um tiro no ombro, causando um ferimento leve. Em 3 de agosto, uma equipe de policiais militares enviada para investigar o ataque se envolveu em um tiroteio, com dois mortos e dois feridos. A PM acredita que os autores dos disparos sejam traficantes. As mortes provocaram o envio de mais um reforço policial na semana passada, desta vez liderado pelo comandante Norte, totalizando 50 homens na região. Os policiais mortos pertenciam à Companhia de Operações Especiais (COE), unidade de elite da PM do Amazonas.