POCONÉ, MT (FOLHAPRESS) – Aos 79 anos, nascido e criado às margens do rio Cuiabá, no Pantanal, Benedito Alves da Silva, o Dito Verde, foi obrigado a abandonar a sua casa pela primeira vez na vida. Eram 10h39 quando ele foi resgatado por um barco do Sesc Pantanal. Atrás da casa de barro e teto de palha, construída por ele, uma grande coluna fumaça se aproximava. “Nunca tinha acontecido como este ano está”, diz Dito Verde, logo abandonar a casa. Deixou sobre o fogão de lenha uma panela com três piranhas pescadas na madrugada. “Mas não vai queimar a casa, pronto, não vai, Deus é grande”. Dito Verde é o único morador da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, a maior área de proteção privada do país. Aposentado, o pantaneiro trabalhou em fazendas da região, teve 13 filhos, mas hoje mora apenas na companhia de duas violas de coxo, o instrumento mais tradicional do Pantanal. Para ele, a região vem mudando bastante nos últimos anos. “Naquele tempo, todo ano tinha água grande [cheia sazonal]. Agora, acabou. Não teve água nenhuma [neste ano], estou falando pro senhor.” O fogo já queimou cerca um terço dos 108 mil hectares da RPPN. Em todo o Pantanal de Mato Grosso, já foram perdidos 185 mil hectares, em meio à maior seca dos últimos anos. O combate na região da casa do Dito Verde e em outros focos está sendo feito por meio da Operação Pantanal 2, que reúne Forças Armadas, Corpo de Bombeiros de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso e brigadistas do Sesc Pantanal, que cedeu alojamento, aeroporto e equipamentos. Apesar do ar intoxicado pela fumaça e dos focos de incêndio chegando às margens do rio Cuiabá, havia três grupos de pescadores amadores no trajeto de barco entre o hotel Sesc Porto Cercado, desde segunda ameaçado pelas chamas, e a casa de Dito Verde. O que o pantaneiro pensa dos turistas? “O bicho é louco mesmo, eu vou falar pro senhor.”