VIÇOSA, MG (FOLHAPRESS) – A explosão que destruiu Beirute na última semana atingiu em cheio os milhares de sírios que vivem na cidade. País com o maior número de refugiados no mundo proporcionalmente ao número de habitantes, o Líbano tem cerca de 1 milhão de sírios, que representam um sexto do total da população do país. Dos mais de 200 mortos pela explosão no porto na terça-feira (4), pelo menos 34 são refugiados, segundo a agência da ONU para o tema (Acnur). O número pode ser maior, já que ainda há sete desaparecidos e 124 ficaram feridos, 20 deles com ferimentos graves. Cerca de 200 mil refugiados vivem na capital libanesa. Com uma extensa fronteira com o Líbano, a Síria entrou em guerra civil em 2011 e, desde então, o país vizinho é um destino muito comum para quem foge da violência do conflito. Segundo o último relatório do Acnur, com números de 2019, são mais de 910 mil os refugiados no Líbano -fora outros 476 mil palestinos que também vivem no pequeno país. A vida no exílio, porém, é dura para eles, tanto nas cidades libanesas quanto em campos de refugiados. Um relatório de 2018 mostra que 70% estavam abaixo da linha da pobreza e que 40% dos sírios em idade ativa estavam desempregados. A crise econômica que atingia o Líbano antes da explosão e a recessão extra devido à pandemia de coronavírus já dificultavam a sobrevivência deles. Agora, com a nova tragédia em Beirute, a situação deve ficar pior. ONGs que atuam com esse público estão sobrecarregadas e preocupadas com o que virá num futuro próximo. O presidente de uma delas, Amel Association International, disse à AFP que em 47 anos de trabalho humanitário no Líbano nunca viu uma época tão difícil. Muitas entidades esperam também um aumento no número de sírios que desejam retornar a seu país, apesar dos riscos. Outro temor é de que a explosão dificulte a chegada de ajuda humanitária até a Síria, já que o porto de Beirute era um dos principais pontos de entrada de suprimentos enviados por organizações humanitárias internacionais. O Acnur afirma que continua trabalhando para identificar as vítimas e que sua resposta humanitária à tragédia, no valor de US$ 12 milhões (R$ 65 milhões), atende não só os refugiados, mas também os próprios libaneses. O apoio inclui abrigo, aconselhamento psicológico, auxílio financeiro de emergência às famílias e ajuda nos preparativos para o enterro dos mortos.