BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – De roupas pretas, máscaras brancas e tochas acesas, um grupo de extrema direita fez uma vigília em frente à sede vazia do SOS Racismo em Lisboa na noite deste sábado (8), numa demonstração pública de que movimentos extremistas estão ficando mais ousados, segundo entidades de direitos civis. “Sair às ruas como a Ku Klux Klan ameaça não só a segurança das pessoas, mas a ordem constitucional do país”, reagiu o diretor da entidade, Mamadou Ba. Em Portugal, a formação de grupos fascistas ou nazistas é proibida pela constituição, mas relatório recém-divulgado pela Europol registra a atuação de três facções de extrema direita. O grupo que copiava a estética supremacista americana no final de semana usa o nome de Resistência Nacional e fazia a terceira ameaça em dois meses ao SOS Racismo, que acusam de “jamais ter defendido um português” e de trabalhar contra os “valores nacionais”. Em julho, a sede da entidade antirracismo foi pichada com a frase “Guerra aos inimigos da minha terra”. No dia 5 deste mês, a organização recebeu uma carta em que os nacionalistas afirmavam ter montado uma milícia de extrema direita e que passariam a “caçar os antifascistas”. O vandalismo, a carta e o vídeo da manifestação são peças da representação que a entidade vai apresentar ao Ministério Público de Portugal, diz Mamadou Ba. “O grupo ultrapassou todas as linhas vermelhas, adotou uma escalada de terror para legitimar sua presença no espaço público”, diz ele. Segundo Ba, o Resistência Nacional está ligado à rede neonazista Hammerskin, que tem entre seus membros ex-militares, policiais e seguranças privados. Seguno a Europol, “apesar de uma capacidade diminuída de mobilizar seguidores e membros, o grupo organizou reunião de diretores em Sintra e, em março, reuniu em Lisboa diferentes gerações de skinheads, incluindo veteranos militantes do extinto Movimento de Ação Nacional”. Em junho, o Ministério Público de Portugal denunciou 27 pessoas por discriminação racial, religiosa ou sexual, ofensa à integridade física e incitamento à violência, em um caso envolvendo membros do Hammerskin, que tem ramificações em vários países europeus. Outro grupo extremista, o Escudo Identitário, é um dos mais ativos em Portugal, segundo a Europol. A Blood & Honour, banida da Alemanha, realiza encontros anuais no norte do país desde 2015, mas não tem registrado crescimento. Para Ba, que relata já ter sofrido uma emboscada de extremistas à luz do dia em Lisboa no final do ano passado, houve uma rearticulação de grupos skinheads que haviam sido desmobilizados no final dos anos 1990. “A eleição de André Ventura, da extrema direita, para o Parlamento deu legitimação social e voz institucional aos extremistas. Eles ganharam nova força e pujança para cavalgar a onda do nacionalismo que se estende por toda a Europa”, afirma o diretor do SOS Racismo. Segundo o jornal português O Público, há membros do partido Chega, de André Ventura, no Resistência Nacional. Os integrantes vêm também de organizações como Nova Ordem Social, Portugal Hammer Skins, uma facção de torcedores do Sporting identificados como 1143 e o Partido Nacional Renovador. Em vídeos na internet, o grupo nacionalista divulga slogans como “Pelos valores europeus”, “Autoridade”, “Honra” e “Movimento contra o comunismo”. Segundo Ba, os extremistas partilham de um imaginário colonialista e idealizam um passado em que Portugal era império. “Infelizmente, há um ressurgimento de um nacionalismo retrógrado e racista”, diz ele. Outra preocupação do ativista são notícias de infiltração da extrema direita em forças de segurança. O diretor do SOS Racismo observa porém que é também crescente a resistência da sociedade portuguesa ao fascismo e ao neonazismo. “Já houve quatro manifestações antirracistas em Portugal neste ano, e em 6 de junho mais de 30 mil foram às ruas, uma mobilização inédita na história do país.”